O presidente da Venezuela Nicolás Maduro tem feito alguns anúncios e imposições para que instituições nacionais e internacionais aceitem o “Petro”, a criptomoeda estatal do país supostamente lastreada em petróleo. Recentemente, uma reportagem da agência de notícias Reuters revelou que não existe qualquer sinal que comprove a verdadeira existência da criptomoeda.
Durante quatro meses, a Reuters conversou com uma dezena de especialistas em criptomoedas e vasculhou os registros de transações digitais da moeda, e a investigação não revelou evidências de um mercado de Petro. A criptomoeda não é vendida em nenhuma exchange importante e não se sabe de nenhum estabelecimento comercial que aceite o Petro.
Um levantamento exclusivo feito pelo Criptomoedas Fácil, mostrou que o presidente Maduro já havia mentido anteriormente sobre o projeto divulgando informações falsas quanto ao suposto valor arrecadado pela oferta inicial de moeda (ICO, na sigla em inglês) do Petro, que, segundo Maduro, teria arrecadado US$5 bilhões, mas o máximo que poderia ser arrecadado seria menos de US$2.304 bilhões.
O governo da Venezuela confirmou que o Petro ainda não existe. Hugbel Roa, ministro envolvido no projeto, disse à Reuters que a tecnologia por trás da moeda ainda está em desenvolvimento e que “ninguém foi capaz de fazer uso do Petro… nem ter nenhum recurso recebido”. Sobre a suposta Superintendência de Cryptoassets, agência criada para supervisionar o Petro, depois de uma investigação da agência de notícias, foi revelado pelo governo que “o órgão ainda não tem presença física”. O website da Superintendência não está funcionando. Seu presidente, Joselit Ramirez, não respondeu às mensagens em suas contas pessoais na mídia social. Telefonemas para o Ministério da Indústria, que supervisiona a agência, não obtiveram sem resposta. O Ministério da Informação não respondeu aos e-mails solicitando comentários.
Embora o “valor” do Petro seja vinculado ao valor do barril do petróleo na proporção 1:1 – atualmente em torno de US$66 – para Alejando Machado, cientista da computação e consultor venezuelano em criptomoedas que tem acompanhado o Petro de perto, a relação petro-bolívar é impraticável.
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“Não há como vincular preços ou taxas de câmbio à uma moeda que não é negociada, precisamente porque não há como saber para que ele realmente é vendido”, disse Machado.
Os poucos compradores que investiram na suposta ICO do Peto, que a Reuters conseguiu localizar, foram aqueles que escreveram sobre sua experiência em fóruns de criptomoedas na internet. Nenhum quis se identificar. Um queixou-se de ter sido “ludibriado”. Outro disse à Reuters que recebeu seus Petros sem problema e culpou as sanções dos Estados Unidos contra a Venezuela e a “imprensa detestável” por prejudicarem o lançamento do Petro.
Em um artigo de opinião publicado em 19 de agosto no Aporrea, um site de comentários e análises venezuelano, o ex-ministro do petróleo Rafael Ramírez estimou que seriam necessários US$20 bilhões em investimentos para explorar as reservas locais, dinheiro que a problemática estatal petroleira PDVSA não tem. “O petro está sendo estabelecido com um valor arbitrário, que só existe na imaginação do governo”, escreveu Ramírez. Ele supervisionou a indústria petroleira da Venezuela durante uma década à época do então presidente Hugo Chávez, e hoje vive exilado em um local secreto por ter sido acusado por Caracas de corrupção, o que ele nega.