O potencial de uso da blockchain em sistemas de votação é praticamente ilimitado. Desde pequenas eleições em associações até a votação de projetos de lei, as possibilidades são praticamente infinitas.
Nesta segunda-feira, 25 de fevereiro, a comunidade de criptoativos brasileira foi contemplada pelo anúncio de Edilson Osório, fundador da startup de autenticação em blockchain OriginalMy, sobre o desenvolvimento de um sistema de votação secreta em blockchain pública.
A ideia por trás do protocolo, intitulado Hääl (“voz” em estoniano; a Estônia é o país onde está localizada a sede da OriginalMy), é usar a blockchain para possibilitar um sistema eletrônico e anônimo de votações sem a dependência de terceiros de confiança ou de auditorias centralizadas. O objetivo é o óbvio: reduzir fraudes em votações, em sistemas eleitorais.
Embora tenha acabado de ser lançado, o protocolo já possui white paper e uma Prova de Conceito (PoC) que garantem a eficácia de seu uso. Um sistema semelhante já foi utilizado, no ano passado, para a eleição da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), que foi realizada por meio da OriginalMy.
O Criptomoedas Fácil entrevistou Osório com exclusividade para saber mais sobre o Hääl e as suas implicações.
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Tecnologia
O Hääl se utiliza de diversos protocolos de criptografia, alguns deles presentes em várias criptomoedas. É o caso do protocolo zk-snarks, utilizado na criptomoeda Zcash.
Outro protocolo do sistema é o Stealth Address, idealizado para o Bitcoin pelo consultor em criptografia Peter Todd. Osório adaptou o protocolo para ser utilizado na rede Ethereum, onde será desenvolvido o Hääl.
“Nós colocamos todos esses protocolos trabalhando em diversas fases e momentos, para garantir o sigilo do voto. E esse voto é contabilizado num blockchain público, auditável por todos, sem a necessidade de uma caixa-preta de auditoria”, ressaltou.
Segundo Osório, o processo de votação no protocolo se dá através de qutro passos:
- Registro. A fase de habilitação dos usuários para que estes possam votar;
- A fase de votação, na qual o eleitor realiza o seu voto. Ela se estende até o fechamento da sessão de voto;
- A fase de contabilização dos votos;
- A fase de auditoria dos votos.
Auditoria descentralizada e anonimato
E é na fase de auditoria na qual estão as características mais interessantes do protocolo. O processo de auditoria permite que o eleitor possa contabilizar o seu voto, mas sem precisar expor a sua identidade real.
Além disso, o sistema permite que o usuário possa verificar se o seu voto foi realmente contabilizado de forma secreta.
“O usuário faz o seu voto e apenas ele pode verificar se aquele voto foi de fato executado. Ninguém além do sistema de auditoria e do eleitor poderá ver e verificar o voto”, afirmou.
“O sistema de auditoria tem acesso às informações de quantos votos foram computados, a somatória de eleitores, mas é impossível vincular o voto ao eleitor”, destaca Osório.
O Hääl também fornece o que Osório chama de Prova de Voto, uma espécie de recibo que comprova que o eleitor votou, mas não revela em quem o voto foi efetuado.
“O recibo pode ser emitido ou não, depende do tipo de eleição. O anonimato do processo é garantido através do uso de Stealth Address, que são carteiras desvinculadas da identidade do usuário”, explicou.
Transparência e amostragem
Todo o processo é transparente e, ao mesmo tempo, sigiloso. Cada usuário pode apurar e verificar a quantidade de votos, porcentagem e o resultado final, mas o conteúdo do voto em si permanece em sigilo.
Outro ponto que Osório destacou do projeto foi a possibilidade de fazer verificações por amostragem de eleitores no sistema.
“Com a amostragem, é possível selecionar uma porcentagem de eleitores e pedir para que eles confirmem o seus próprios votos. Por exemplo, você pode selecionar 10% de 1 milhão de eleitores (100 mil) e pedir para cada um deles verificar e sinalizar se o seu voto está correto. Essa é mais uma forma de auditar o sistema”, explicou.
Todo o processo é verificado em tempo real. E no final do processo, a auditoria por recontar os votos e verificar se o processo foi bem sucedido sem, novamente, prejudicar a privacidade do eleitor.
Verificação de identidade
O sistema de verificação de identidade também foi abordado na entrevista. Osório explicou que cada entidade organizadora da eleição (empresas, associações ou governos) poderá conectar sistemas de identificação próprios para reconhecer os eleitores – ou adicionar a identidade em blockchain fornecida pela OriginalMy, a Blockchain ID.
“Se for para uma empresa que não precise de um nível tão alto na verificação da identidade, ela pode conectar o sistema de identificação dela. Se houver a necessidade de maior segurança, pode ser usado a Blockchain ID. Mesmo o governo pode conectar seu próprio sistema de identificação dos eleitores.”
Por essa necessidade de uma verificação externa de identidade, o Hääl não torna a eleição totalmente descentralizada. O que ele faz com eficácia é tirar do administrador da eleição a possibilidade de manipular os votos.
“A eleição ainda depende do administrador, portanto ela não é descentralizada. O que o Hääl faz é tirar do administrador da eleição o poder de manipular os votos e contabilizá-los longe dos olhos das outras pessoas”, afirmou.
Essa é uma importante melhora, pois o administrador, embora organize o processo eleitoral em si, passa a não ter acesso aos votos e poder fraudar a contagem dos mesmos. Algo muito importante em um cenário no qual 92% dos brasileiros afirmou não confiar nas atuais urnas eletrônicas.
Primeiras tentativas
Embora atualmente o projeto se resuma ao white paper e à uma PoC que confirma sua eficácia, o Hääl poderá ver a luz do dia em breve. Osório afirmou que pretende fazer o primeiro teste do protocolo no final de 2019, tendo a OriginalMy como executora.
E o primeiro caso de uso será com empresas públicas: o Hääl será utilizado para garantir a segurança nas votações dos acionistas dessas empresas. A razão para isso é simples: o corte de custos que isso pode representar.
“Empresas tem grandes problemas com seguranças de voto para os acionistas remotos. A Procter & Gamble gastou mais de US$ 60 milhões em 2017 apenas para resolver uma disputa na recontagem de votos remotos, pois os acionistas votam remotamente e ele fica em um limbo, pois eles ˜ão sabem se foi contado. Então, podemos mostrar mais eficiência se focarmos em eleições de menor porte”, afirmou Osório.
Devido ao estágio muito inicial da plataforma, os planos da OriginalMy estão focados em buscar parceiros e clientes para o produto.
“Já estamos em contato com algumas empresas no Brasil e na Europa também. O nosso objetivo é focar em empresas globais, grandes consultorias (que são os melhores canais para entrar nessas empresas). Está tudo muito no início, mas temos o objetivo de criar uma plataforma funcional com o sistema já em execução. Para isso, vamos buscar parceiro. É um ciclo longo”, finalizou.
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