O Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou um relatório que reacende o debate sobre os riscos associados ao uso crescente das stablecoins no sistema financeiro global. A instituição alerta que, apesar de oferecerem eficiência em pagamentos internacionais, essas moedas digitais podem fragilizar bancos. Além de ampliar a dependência do dólar e gerar vulnerabilidades macroeconômicas significativas.
De acordo com a professora Hélène Rey, da London Business School, o avanço das stablecoins pode acelerar a dolarização de economias emergentes e reduzir a capacidade de bancos centrais influenciarem juros, inflação e liquidez. Para ela, se governos perderem controle sobre a política monetária, os países ficarão mais expostos às decisões econômicas dos Estados Unidos.
A especialista afirma que o uso massivo dessas moedas pode se transformar em um fator de instabilidade financeira no médio prazo.
Os números confirmam a força crescente desse mercado. O valor total das stablecoins já alcança US$ 289 bilhões, com o Tether (USDT) dominando quase 59% desse volume, de acordo com dados da DeFi Llama. Embora milhões de pessoas usem esses ativos todos os dias para transferências rápidas e baratas, o FMI reforça que o mesmo mecanismo pode servir para práticas ilícitas, como lavagem de dinheiro e financiamento de atividades criminosas.
O pesquisador Yao Zeng, da Wharton School da Universidade da Pensilvânia, acrescenta outro ponto crítico. Para ele, as stablecoins funcionam bem em períodos de estabilidade, mas tendem a falhar sob pressão. Zeng lembra que os emissores desses ativos não são bancos tradicionais e, portanto, contam com menos supervisão regulatória, o que amplia os riscos em cenários de estresse.
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Além disso, destaca que o uso de inteligência artificial e big data em fintechs que operam nesse setor pode afrouxar critérios de crédito e aumentar a exposição a crises.
Stablecoins e a economia global
O relatório também observa que governos e bancos centrais não ficaram parados. Países como a Índia já lançaram sistemas próprios de pagamentos instantâneos, como o Unified Payments Interface (UPI), que conecta milhares de instituições e processa bilhões de transações mensais. Esse exemplo mostra como soluções públicas podem competir com as stablecoins e garantir maior segurança ao ecossistema financeiro.
Mesmo assim, os desafios permanecem. Pesquisadores do Banco de Pagos Internacionais (BIS) defendem que apenas políticas públicas proativas e regulações claras podem transformar a inovação em benefício real. Sem supervisão adequada, as stablecoins e outras ferramentas digitais podem desestabilizar os sistemas bancários ao invés de fortalecê-los.
O FMI conclui que a revolução nos meios de pagamento deve vir acompanhada de medidas que priorizem proteção ao consumidor, prevenção de crimes financeiros e estabilidade econômica. Do contrário, a expansão desenfreada das stablecoins pode gerar choques globais. Na América Latina, onde países como Argentina, Bolívia e Colômbia, por exemplo, já utilizam essas moedas para driblar restrições cambiais e acessar o dólar, o alerta do FMI ganha ainda mais relevância.
Assim, o avanço das stablecoins representa tanto uma oportunidade de inclusão financeira quanto uma ameaça de instabilidade. O relatório do FMI mostra que, sem coordenação entre reguladores e instituições, a promessa de eficiência pode se transformar em um risco sistêmico para a economia global.