2017 foi o melhor ano para o Bitcoin em diversos aspectos, porém do ponto de vista tecnológico as coisas parecem estar apenas começando. De acordo com um interessante artigo publicado pela Bitcoin Magazine, 2018 promete ser o ano em que uma série de projetos de desenvolvimento para o Bitcoin envolvendo tecnologia será colocada em prática. Confira as medidas que serão lançadas e adotadas:
Transações mais baratas com testemunhas segregadas (SegWit) e um novo formato de endereço
O SegWit foi uma das maiores atualizações do protocolo do Bitcoin até hoje. Ativado em agosto de 2017, fixou um bug de maleabilidade de longa data, melhorando portanto os protocolos de segunda camada. Além disso, o SegWit substitui o limite de tamanho do bloco do Bitcoin pelo limite de peso do bloco, permitindo o aumento na quantidade de transações por toda a rede, reduzindo as taxas de transação. A sua adoção teve um início relativamente lento. Muitas carteiras e serviços ainda não adotaram a tecnologia, porém a expectativa é que a adoção cresça em 2018.
A carteira Bitcoin Core permitirá aos usuários aceitar e enviar transações SegWit. O Bitcoin Core 0.16, programado para maio de 2018, provavelmente irá adotar isso através de um novo formato de endereço conhecido como “bech32”, que também possui algumas vantagens técnicas que limitam riscos e erros (por exemplo, aqueles causados por erros de digitação).
Alguns dos maiores provedores de serviços de Bitcoin, como a corretora de criptomoedas Coinbase, planejam fazer a atualização para o SegWit em 2018. Uma vez que tais provedores representam uma enorme fatia de transações da rede do Bitcoin, isso poderia reduzir significamente o congestionamento da rede, diminuindo as taxas médias de transação e os tempos de configuração, mesmo para aqueles que não usam essas ferramentas.
O lançamento da rede principal do Lightning Network do Bitcoin
Embora uma maior adoção do SegWit ofereça alívio imediato à pressão e aos tempos de confirmação de transações, uma escalabilidade a longo prazo verdadeiramente significativa provavelmente será alcançada com as soluções de segunda camada construídas sobre a rede principal do Bitcoin.
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Uma das soluções mais esperadas a este respeito é o Lightning Network. Esta rede de sobreposição, proposta pela primeira vez por Joseph Poon e Tadge Dryja em 2015, promete possibilitar transações quase instantâneas, além de confirmações instantâneas, ao mesmo tempo em que alavanca a segurança do Bitcoin.
A solução está sendo desenvolvida há cerca de dois anos, com grandes esforços da ACINQ, Blockstream e Lightning Labs. O progresso desta camada de escalabilidade foi significativo durante todo o ano de 2017, com versões iniciais de software, interfaces de carteiras utilizáveis ??e transações de teste acontecendo tanto na rede de testes como na rede principal do Bitcoin.
“Eu diria que resolvemos os principais problemas técnicos e temos uma ideia relativamente boa sobre como melhorar o sistema atual“, disse Christian Riccker, desenvolvedor do Lightning da Blockstream. “Um último obstáculo que vale a pena mencionar é a topologia da rede: gostaríamos de orientar a formação da rede para ser o máximo possível descentralizada”.
Dado o estado atual do desenvolvimento, a adoção do Lightning Network só deve aumentar ao longo de 2018, e não apenas entre os desenvolvedores mas também entre os usuários finais. “A integração e o teste serão o próximo grande passo a seguir“, afirmou a CEO da Lightning Labs, Elizabeth Stark, e observou: “algumas corretoras e carteiras já estão trabalhando nisso”.
Aumento da privacidade através do TumbleBit e do ZeroLink
Embora algumas pessoas entendam que sim, o Bitcoin não possibilita a privacidade exatamente. Todas as transações são incluídas publicamente na blockchain, de modo que todas as pessoas possam enxergá-las. A análise de dados de transações pode revelar muito sobre quem é o dono, quem negocia com quem etc.
Esta situação poderia ser significativamente melhorada em 2018 através de dois projetos que têm se mostrado os mais promissores em relação ao tema: TumbleBit e ZeroLink. Ambos estão próximos de serem implementados na rede principal do Bitcoin.
O TumbleBit foi proposto pela primeira vez em 2016 por um grupo de pesquisadores liderados por Ethan Heilman. Ele é, essencialmente, um protocolo que mistura moedas usando um tumbler para criar canais de pagamento para todos os participantes em uma única sessão. Todos receberão Bitcoins diferentes daqueles que eles tinham inicialmente, rompendo o histórico de propriedade de todos. O TumbleBit também utiliza truques criptográficos inteligentes para garantir que o tumbler não estabeleça vínculo entre os usuários.
Uma implementação inicial do protocolo TumbleBit foi codificada pelo desenvolvedor da NBitcoin, Nicolas Dorier, no início de 2017. Seu trabalho foi adotado por Ádám Ficsór, bem como por outros desenvolvedores, e a Straits, plataforma de blockchain, anunciou que implementaria a tecnologia na próxima carteira Breeze, que também suportará Bitcoin a partir de março de 2018. Recentemente, em meados de dezembro de 2017, a Stratis lançou a integração TumbleBit nesta carteira em versão beta.
O ZeroLink é uma outra solução promissora mais antiga: foi proposto pela primeira vez (com outro nome) por Gregory Maxwell, colaborador do Bitcoin Core e diretor de tecnologia da Blockstream, em 2013. Assim como o TumbleBit, o ZeroLink utiliza um servidor central para conectar todos os usuários mas sem vincular suas transações. Ao contrário do TumbleBit, no entanto, ele cria uma única transação (CoinJoin) entre todos os participantes, o que torna a solução significativamente mais barata.
Esta ideia parecia ter sido esquecida durante alguns anos, até que Ficsór (o mesmo Ficsór que trabalhou no TumbleBit) a redescobriu no início deste ano. Ele trocou seus esforços no TumbleBit para um novo projeto do ZeroLink e desde então terminou uma implementação inicial do ZeroLink. Ficsór recentemente realizou alguns testes da implementação do ZeroLink e, embora os resultados demonstrem que ela precisa ser melhorada, ele considera provável que ela seja adequadamente usada dentro de meses.
Mais sidechains, mais adoção
Sidechains são blockchains alternativas, mas com moedas pareadas uma a uma em relação aos bitcoins específicos. Isso permite que os usuários efetivamente “movimentem” bitcoins para as redes que operam sob regras totalmente diferentes e significa que o Bitcoin e todas as suas sidechains usam apenas 21 milhões de moedas “originais” incorporadas no protocolo original. Por exemplo, uma sidechain pode permitir confirmações mais rápidas, mais privacidade, capacidades de contratos inteligentes estendidos ou praticamente qualquer coisa que as altcoins fazem atualmente.
O conceito foi proposto pela primeira vez por Adam Back, CEO da Blockstream, em 2014. Formou a base em torno da qual a Blockstream foi fundada. A própria Blockstream lançou a sidechain Liquid, que permite transações instantâneas entre as corretoras de criptomoedas. A Liquid ainda está em versão beta, mas poderá ser lançada oficialmente em 2018.
Outra promessa para 2018 é a RSK, que está em desenvolvimento há algum tempo. A RSK está configurada para permitir o suporte de contratos inteligentes Turing-complete, trazendo assim a flexibilidade do Ethereum para o Bitcoin. A RSK está atualmente em versão beta privada e o seu co-fundador Sergio Demian Lerner sugeriu que uma versão pública pode ser lançada em breve.
Uma proposta de assinatura Schnorr
As assinaturas de Schnorr, com o nome de seu inventor Claus-Peter Schnorr, são consideradas por muitos criptógrafos como as melhores assinaturas criptográficas conhecidas. Elas oferecem um forte nível de correção, não sofrem de maleabilidade, são relativamente rápidas para verificar e habilitar recursos úteis, graças às suas propriedades matemáticas. Agora, com a ativação do SegWit, poderia ser relativamente fácil implementar assinaturas de Schnorr no protocolo do Bitcoin.
Talvez a maior vantagem do algoritmo de assinatura de Schnorr seja o fato de que as multi-assinaturas podem ser agregadas em uma única assinatura. No contexto do Bitcoin, isso significa que uma assinatura pode ser propriedade de vários endereços de Bitcoin. Uma vez que muitas transações enviam moedas de vários insumos, ter que incluir apenas uma assinatura por transação deve beneficiar significativamente a escalabilidade do Bitcoin. A análise baseada em transações históricas economizaria uma média de 25% por transação, o que aumentaria a capacidade máxima de transação do Bitcoin em cerca de 33%.
Além disso, as assinaturas de Schnorr poderiam influenciar ainda mais. Por exemplo, com o Schnorr, também deve ser possível agregar assinaturas diferentes de uma transação de multi-assinatura. Isso poderia, por sua vez, tornar a CoinJoin uma alternativa mais barata às transações regulares para os participantes, incentivando assim um Bitcoin de uso mais privado. Eventualmente, as propriedades matemáticas das assinaturas de Schnorr podem até mesmo habilitar aplicativos mais avançados, como contratos inteligentes usando “Scriptless Scripts”.