Com queda de 4,97% nos últimos sete dias, o preço do Bitcoin (BTC) voltou a ficar abaixo dos US$ 44 mil. Embora seja uma pequena correção para os padrões do mercado, o movimento traz preocupações, já que a criptomoeda falhou novamente em ficar acima de US$ 45 mil.
Ao que parece, parte dessa queda tem a ver com uma mudança de postura do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. De acordo com a autarquia, a taxa de juros do país deve sofrer aumentos mais intensos ao longo de 2022, com o objetivo de conter a inflação.
Contudo, esse aumento de juros também será acompanhado de uma redução na liquidez gerada pelo Fed. Isto é, o banco pretende vender boa parte de seus ativos no mercado. E isso pode causar um forte impacto no preço dos ativos de risco – incluindo o BTC.
Inflação
Enquanto a inflação nos EUA se aproxima de 8% nos últimos 12 meses, a taxa básica de juros está em apenas 0,25%.
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Para os bancos centrais, a taxa de juros é a principal ferramenta para controlar a escalada nos preços. Ou seja, quando a inflação está elevada, o governo aumenta a taxa de juros. Esse aumento reduz a atividade econômica, o que por sua vez alivia a pressão de alta da inflação.
Contudo, o ritmo atual de elevação dos juros por parte do Fed ainda é muito tímido. O último aumento realizado em março foi de 25 pontos-base, fazendo a taxa sair de 0% para 0,25%. Mas a inflação dos EUA está muito elevada, próxima de 8% – maior taxa dos últimos 40 anos.
Isso significa que os EUA contam com uma taxa de juro real negativa atualmente. Assim, o Fed teria que aumentar o ritmo de elevação dos juros. E é justamente isso que o banco central indicou, segundo Lael Brainard, governadora da instituição.
“O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) continuará a apertar a política monetária metodicamente através de uma série de aumentos de taxa de juros e começando a reduzir o balanço em um ritmo rápido assim que a nossa reunião de maio”, disse Brakard.
Nesse sentido, o Fed não apenas planeja aumentar os juros a um ritmo mais intenso, como também vai retirar mais liquidez do mercado. Em outras palavras, venderá ativos que detém em seu balanço.
Maior comprador do mercado
O balanço do Fed é composto por ativos que o próprio banco central compra do mercado financeiro, sobretudo títulos do governo dos EUA. Em troca, o dinheiro utilizado nas compras vai para o mercado, sustentando a liquidez dos títulos e bolsas de valores.
De acordo com o site do Fed, o balanço da instituição mais que dobrou desde março de 2020. O gráfico mostra que o Fed saiu de US$ 4,2 trilhões em março de 2020 para US$ 8,9 trilhões em março de 2022. Quase US$ 5 trilhões foram adicionados em apenas dois anos.
Com os dados atuais, o Fed tornou-se o maior comprador de ativos do mercado estadunidense. Na prática, é o banco central quem garante a liquidez dos mercados e a saúde deles. Mas agora, o comprador anunciou que pretende começar a vender ativos do seu balanço.
O dilema do Fed
Ao mesmo tempo em que busca combater a inflação, o Fed também quer evitar um colapso dos mercados. Afinal, a venda de ativos significa aumentar a oferta de títulos do governo e hipotecas no mercado.
Em um tuíte feito na quarta-feira (6), o economista Fernando Ulrich comentou sobre a decisão do Fed. Ulrich destacou que a redução no balanço do Fed pode chegar até US$ 100 bilhões por mês. Ou seja, quase meio trilhão de reais sendo vendidos no mercado a cada 30 dias.
Fed sinalizando possivelmente $100 bi de redução no balanço todo mês. Isso significa o maior player do mercado vendendo Treasuries e MBS a rodo.
Vocês acham que essa pressão vendedora leva preço dos ativos para cima ou para baixo?
A música está parando de tocar.
— Fernando Ulrich (@fernandoulrich) April 6, 2022
No entanto, a venda de ativos retira liquidez do mercado, o que pode afetar bastante os ativos de risco. Por um lado, uma taxa de juros mais alta leva os investidores a buscar títulos do governo, considerados mais seguros.
Ao mesmo tempo, a retirada da liquidez faz com que haja menos dinheiro à disposição dos investidores. Com isso eles precisarão escolher melhor onde alocar seus recursos. Se a procura pelos títulos aumenta, isso significa a saída de dinheiro de mercados considerados mais arriscados.
Nesse sentido, ações e criptomoedas são os investimentos que mais tendem a sofrer, por serem vistos como de alto risco pelo mercado. Ativos do setor de tecnologia, como Apple, Tesla e Netflix, bem como o BTC, são os mais afetados.
De fato, Wall Street reagiu mal ao anúncio do Fed na quarta-feira, com o Dow Jones caindo 200 pontos, ou 0,6%. O índice S&P 500 caiu 1%, ao passo que o Nasdaq 100 – que engloba as ações do setor de tecnologia – caiu 2,1%.
Portanto, a mudança de postura do Fed explica parte do movimento de correção em vários mercados globais e também nas criptomoedas. O quão intensa essa correção será vai depender da postura do banco central nas próximas reuniões, onde a taxa de juros deverá ser revista novamente.
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