Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central do Brasil (Bacen), afirmou, em entrevista ao jornal Valor Econômico, que uma das principais tarefas do novo presidente da instituição (além do controle da inflação e da estabilidade econômica), o economista Roberto Campos Neto, é conduzir a principal instituição financeira nacional para a economia digital.
“O BC tem duas funções permanentes. Uma é a estabilidade da moeda, tarefa nunca terminada porque as circunstâncias mudam e, se descuida, a inflação ancorada pode escapar. Além disso, o BC tem o papel de regular e zelar pela estabilidade do sistema financeiro. E essa é uma agenda que está em permanente mudança, dependendo da macroeconomia e da evolução tecnológica. O BC deve ainda ser o grande patrocinador de medidas para reduzir o custo do crédito no Brasil. Esse programa BC+, que o ex-presidente Ilan Goldfajn iniciou, deve ser continuado na gestão do Roberto Campos Neto. Um papel relevante é fazer a transição do mercado para o processo digital. Daqui há algum tempo vai ter dinheiro de papel? O dinheiro no BC vai ser em blockchain? O BC tem sempre algo a resolver, sem que se esqueça da inflação e da estabilidade. Não adianta fazer uma casa bonitinha que caia ao primeiro vento. Não adianta enfeitar de flores o sistema bancário, mas construindo instituições frágeis e fragilizando as que estão sólidas. Esse é o cuidado que tem de ter. O Ilan deixa um legado: recuperou a credibilidade do BC sem sequer ter aumentado o juros uma vez. Quem vem depois terá dificuldade”, disse.
Enquanto Loyola comandou o Bacen (de 1995 à 1997) quanto o Bitcoin ainda não existia ou mesmo a internet ainda engatinhava no Brasil, durante a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, o novo presidente Roberto Campos Neto tem um novo Brasil e um novo cenário tecnológico pela frente e, como mostrou o Criptomoedas Fácil, o novo comandante do Banco Central vem estudando o Bitcoin e a tecnologia blockchain.
“Tenho estudado e me dedicado intensivamente ao desenho de como será o sistema financeiro do futuro. Participei de estudos sobre blockchain e ativos digitais. Uma das contribuições que espero trazer para o Banco Central é preparar a instituição para o mercado futuro em que as tecnologias avançam de forma exponencial, gerando transformações mais aceleradas”, afirmou em carta encaminhada ao Senado.
Também entre os “cabeças”da nova gestão do Banco Central está o economista João Manoel Pinho de Mello, que assumiu a Diretoria de Organização do Sistema Financeiro (ele foi aprovado pelo Senado no mesmo dia que o novo presidente) e destaca que tanto a blockchain, como inteligência artificial, identidade digital, pagamentos instantâneos e open banking “estão alterando os modelos de negócios e os serviços financeiros”
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