O ex-presidente do Banco Central do Brasil (Bacen) Gustavo Loyola dedicou uma ampla coluna noJornal Valor Econômico na qual refuta qualquer possibilidade de criptomoedas como o Bitcoin substituírem as moedas (digitais ou físicas) emitidas por banco centrais, no entanto, não descarta que estes mesmos bancos possam emitir as CBDCs (Central Banks Digital Currencys).
Para Loyola, as criptomoedas não “satisfazem os requisitos mínimos para serem denominadas ‘moedas’ à luz dos cânones da teoria monetária consagrada” e a “substituição da moeda emitida pelos bancos centrais por ‘criptomoedas’ emitidas pelo setor privado é apenas uma miragem, e nada mais do que isso”.
Seguindo os conceitos de Douglass North para a a definição do que vem a ser as “instituições” públicas, Loyola reforça que “as instituições moldam o comportamento humano, incentivam ou restringem certas ações, mas têm papel fundamental na redução das incertezas em relação ao futuro e na garantia de um ambiente estável aos investimentos e aos negócios, sendo por isso fundamentais no desenvolvimento econômico”, desta forma, para ele, “o principal obstáculo para a substituição dos atuais sistemas monetários por ‘criptomoedas’ emitidas descentralizadamente é o déficit de confiança que tais instrumentos têm em relação às moedas emitidas pelos bancos centrais. Um sistema monetário confiável é aquele capaz de assegurar a estabilidade de preços e minimizar a ocorrência de crises financeiras”.
“Em nenhuma dessas dimensões, as ‘criptomoedas’ emitidas privada e descentralizadamente seriam superiores. Sem essa confiança, e na ausência de obrigação legal, as ‘criptomoedas’ não exerceriam as funções de ‘meio de pagamento’ e de ‘unidade de conta’, que são intrínsecas a qualquer moeda que valha esse nome. Com relação à estabilidade de preços, não precisamos ir muito longe. A curta história das ‘criptomoedas’ tem mostrado quão instáveis são. Não é crível que um ativo tão volátil possa se consagrar como meio universal de pagamento”, declara Loyola.
O doutor em economia destaca porém que mesmo que o Bitcoin seja aceito como forma de pagamento, ele ainda está sujeito à uma enorme volatilidade, que torna difícil com que seja utilizado universalmente como uma substituição às moedas emitidas por bancos centrais, pois além dos argumentos sobre o Bitcoin não ser uma “moeda”, ele também, se utilizado como substituição à uma moeda nacional, poderia expor os países a crises econômicas.
“Por outro lado, pela mesma razão, um sistema monetário baseado em ‘criptomoedas’ seria extremamente exposto ao risco de crises financeiras. Movimentos especulativos encontrariam terreno fértil num sistema monetário não regulado e não supervisionado e no qual inexiste a figura do emprestador de última instância. Os exemplos históricos estão aí para demonstrar que os bancos centrais surgiram primeiramente como instituições destinadas a evitar crises financeiras, somente depois assumindo explicitamente a função de guardiões da estabilidade de preços”, afirma.
No entanto, enquanto a possibilidade do Bitcoin de substituir as moedas nacionais é uma miragem para o ex-presidente do Bacen, ele não vê como algo impossível a emissão de criptoativos por bancos centrais e que, caso estas instituições venham a adotar esse movimento, o mercado de criptomoedas será reduzido a meramente especulação financeira.
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“O que não é miragem é a possibilidade, em futuro próximo, de os bancos centrais emitirem moedas digitais com tecnologias idênticas às presentes nos ‘Bitcoins’. Nesse caso, os desafios seriam outros, mas pelo menos na essência seriam mantidas as características dos sistemas monetários atuais. Mais do que isso, acredito provável que a moeda digital dos bancos centrais faça refluir a onda das criptomoedas privadas, cujo papel ficará restrito, na melhor das hipóteses, ao de mais um ativo financeiro a compor o portfólio diversificado dos investidores”, finaliza.
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