Depois de duas entrevistas especiais com Emília Campos e com Rosini Kadamani, chegou a vez de Liliane Tie integrar o time de mulheres homenageadas pelo Criptomoedas Fácil neste mês de março na série Mulheres na Blockchain.
Liliane Tie é co-fundadora e Community Builder na rede Women In Blockchain Brasil, além de Consultora de Projetos e Engajamento de Stakeholders. Liliane é uma das pessoas mais ativas na comunidade feminina de criptomoedas do Brasil e é fã da antropóloga e pioneira da teoria cibernética Margaret Mead (nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo. De fato, foi sempre assim que o mundo mudou).
Em entrevista exclusiva para o Criptomoedas Fácil, Liliane fala sobre a Women In Blockchain, os projetos que a rede está desenvolvendo e também a sua visão sobre a participação feminina no ecossistema cripto.
Criptomoedas Fácil: Bom dia, Liliane. Vamos começar a entrevista falando um pouco sobre você e o seu trabalho para apresentá-la aos nossos leitores.
Liliane Tie: Bom dia Luciano. Bom dia pessoal do Criptomoedas Fácil. Eu sou Liliane Tie, Community Builder em São Paulo da rede Women In Blockchain Brasil.
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CF: Como você começou a trabalhar com Bitcoin e Blockchain?
LT: eu me vejo muito mais como entusiasta ainda e ativista, no sentido de chamar a atenção de mulheres (principalmente) para a importância destes novos tempos que estamos vivendo. Meu desejo, claro, é poder gerar e trabalhar só com projetos desta nova economia, mas como tudo ainda é muito novo, também entendi que era necessário começar a fomentar uma comunidade e dar minha contribuição ao ecossistema.
CF: Fale um pouco sobre a Women In Blockchain. Qual o seu papel dentro do grupo e como ele atua no mercado de Blockchain no Brasil?
LT: Começamos pequeno, fazendo meetups, que eu brinco dizendo que eram encontros P2P. Pois, começamos com 2 mulheres, que depois foi aumentando para 3, 4, 5… e assim foi crescendo. Depois começamos a receber convites para participar de alguns eventos, e passamos a falar para 30, 50, até 100 pessoas. De novembro do ano passado até agora, impactamos um público diverso de aproximadamente 600 pessoas com nossas palestras e dinâmicas voluntárias com o BlockTubo, num esforço totalmente colaborativo. O BlockTubo, como ficou conhecido por aqui, é um tubo físico idealizado por um coletivo de designers fransceses para sustentabilidade junto com a Blockchain França para explicar Blockchain de forma simples e familiar, sem usar PowerPoint (risos). O artigo original foi traduzido para o português, por Fernando Americano do Le Wagon, como: “Como ensinar Blockchain para crianças a partir de 5 anos“. Por enquanto, no Brasil e no mundo, somente nós adaptamos este tubo para a nossa realidade. Um trabalho de formiguinhas mesmo. E mulheres são muito boas nisso.
Desejamos democratizar um conhecimento que ainda está restrito a um público privilegiado, a um número pequeno de escolas especializadas nos grandes centros e que muitas vezes não conseguem atrair muitas mulheres (e outras minorias) para as turmas que formam. Se teremos uma única chance agora de formar profissionais que vão modelar negócios, organizações e ecossistemas do futuro, então é preciso olhar com atenção para a diversidade desta massa crítica e criativa.
CF: Conte-nos um pouco sobre a história do grupo e quais eventos vocês realizaram até hoje.
LT: Primeiro queríamos só entender do que se tratava afinal essa Revolução Blockchain. Eu, Delza Carvalho e Cassiana Buosi iniciamos a comunidade quase que sem querer. Acabamos engajando mais mulheres para a importância deste tema, inicialmente movimentando nossas redes pessoais. O recente Painel do Women In Blockchain no palco principal da Campus Party foi uma realização para todas nós que estamos desde o início, mas é preciso honrar também os primeiros eventos que participamos em 2017. A Virada Empreendedora da Rede Mulher da querida Ana Fontes, o convite da She’s Tech da querida Ciranda de Morais dentro da FINIT, a DevFestBH de uma galera sensacional que me inspirou muito e outros tantos convites de eventos que recebemos na sequência. Agora em 2018, estamos intensificando as parcerias, os meetups e experimentando novos formatos.
CF: Como você avalia a atual participação feminina no mercado, tanto em termos de quantidade quanto de projetos executados?
LT: Não temos conhecimento de nenhuma pesquisa formal ainda no Brasil com números e indicadores. Gostaríamos, inclusive, de encabeçar esta iniciativa. Por estarmos atentas e imersas no ecossistema, sabemos que a participação feminina tanto no mercado de criptomoedas quanto de participação em novos negócios de Blockchain ainda é baixo. Suspeitamos que ainda esteja longe do equilíbrio de 50/50. Mas há exceções à regra, felizmente! Conheço startups e empreendedores com mente aberta que começaram com equipes bem diversas neste mercado.
CF: Você construiu toda sua carreira no mercado de tecnologia. Em todo esse tempo, como você avalia a tendência do mercado brasileiro para adotar mudanças mais disruptivas, em termos de velocidade e de entusiasmo?
LT: Eu acredito que mesmo no Brasil, desta vez, algumas mudanças vão ocorrer mais rapidamente do que em ondas anteriores de inovação. Vivemos tempos exponenciais. Basta sair e conversar com as pessoas que já estão fazendo e vivendo de forma diferente. Para elas, o futuro já chegou. Elas estão construindo o futuro. Entretanto, muitos de nós ainda vivemos presos ao século XX. Se sou alguém em posição de tomadora de decisão ou tenho influência sobre, começar a hackear meu próprio mindset é fundamental porque as mudanças não vão mais deixar de acontecer por decisões unilaterais ou pela falta delas. Penso também que ainda falta furarmos algumas bolhas (estou falando das sociais… risos) e conectarmos galeras de diferentes tribos. O Brasil é bem grande, mas se conseguirmos fazer isso (e já tem muita gente do bem engajada e trabalhando), a velocidade e o entusiasmo terão efeitos e resultados exponenciais.
CF: Para você, existem obstáculos que impedem uma maior participação de mulheres no mercado? Quais seriam?
LT: Existem, e são praticamente sempre os mesmos obstáculos que as mulheres enfrentam em diversas indústrias. Vou responder com outra pergunta em vez de responder quais seriam estes obstáculos: por que? Por que normalmente quando nós mulheres tentamos explicar o nosso ponto de vista, temos que ouvir coisas do tipo lá vem mimimi (sic). Nós das #WomenInBlockchainBr temos nos recomendado umas às outras a não responder nem alimentar trolls. Focamos nosso tempo e energia em aprender juntas e pensar em novas soluções.
E na minha visão pessoal, a sociedade está precisando é de mais homens falando para homens sobre machismo, patriarcado, assédio… ajudando a desconstruir isso na raiz do problema. Conheço pouquíssimos homens fazendo este trabalho. Enquanto estas questões não forem tratadas mais abertamente pelos homens (e para os homens), continuaremos enfrentando todas aquelas pequenas situações do machismo nosso de cada dia e que juntas acabam culminando em “tetos de vidro” e em outras situações mais graves.
CF: Quais são as suas principais referências dentro do mercado de Blockchain e criptomoedas, seja masculinas ou femininas?
LT: Bom, para ficar no equilíbrio 50/50, vou escolher os primeiros nomes que sempre me vêm à cabeça: Primavera de Filippi e Vitalik Buterin.
CF: Uma pesquisa lançada pelo Criptomoedas Fácil em dezembro de 2017 mostrou que 70% das mulheres que investem em criptomoedas pretendem continuar investindo ou aumentar seus aportes em 2018. Como você avalia essa participação feminina dentro do mercado e quais os potenciais que poderemos ter para este ano?
LT: Lembro desta pesquisa. Parabéns ao Criptomoedas Fácil pela iniciativa. Se não me falhe a memória, a base pesquisada foi de leitoras do portal, e embora 70% seja um número excelente, lembro que o número de investidoras respondentes não era muito expressivo se pensarmos em termos de Brasil. Para um nicho específico o resultado é bem animador, mas a realidade sócio-econômica à qual essas investidoras pertencem também seria um dado importante para entendermos melhor o potencial delas atraírem mais mulheres para investirem em cripto. A realidade de muitas mulheres não só no Brasil, mas no mundo, é a de que antes de investir, elas precisam pagar as contas do mês. Muitas delas sustentam a família.
E uma outra observação importante é que nem estamos contando aqui com um fato preocupante que me chamou a atenção ao longo destes últimos meses. Mulheres podem estar “investindo” em falsas moedas e falsas promessas. Não temos nenhuma pesquisa ampla que nos revele também números envolvendo estas questões mais delicadas. Temos tentado alertar e conscientizar mais mulheres, dando dicas de como fazer um raio-x destas ofertas não solicitadas.
CF: Quais são os planos da Liliane Tie e da Women In Blockchain para 2018?
LT: atualmente minha vida tem se fundido bastante com o propósito da comunidade. Tive que rever meus planos para 2018 e meu desejo agora é abrir caminhos urgentemente e gerar oportunidades para a comunidade como um todo. Conversando com outros líderes de comunidades mais experientes, cheguei a conclusão de que eu também não sei por quê faço tudo isso. Das respostas que ouvi, me identifiquei com estas: Paixão. Propósito. Fé nas PESSOAS. Cada vez eu acredito mais no poder da colaboração e da “Abundância”. Acho que estou perdendo o medo típico do modelo de “escassez”, ou eu não estaria investindo todo o meu tempo nisso. Nem eu, nem minha parceira Marcela R. Gonçalves no RJ. Esperamos assim, democratizar cada vez mais o conhecimento em torno de Blockchain e tecnologias correlatas, trazendo para discussão mulheres e minorias que sempre foram deixadas de fora “do sistema”.
CF: Obrigado pelo seu tempo e disponibilidade, Liliane. Deixo agora o espaço aberto para seus comentários.
LT: Obrigada mais uma vez ao Criptomoedas Fácil pelo espaço. A Women In Blockchain Brasil é uma rede de apoio e cooperação para inclusão da mulher na nova economia. A comunidade está crescendo e revelando cada vez mais o potencial de um já mini-ecossistema. São consultoras, pesquisadoras, empreendedoras, designers e desenvolvedoras de tecnologia, educadoras, muitas advogadas e recentemente uma juíza também se integrou ao nosso espaço virtual, enriquecendo ainda mais as nossas conversas e compartilhamentos. Estamos compartilhando nossas ações com as hashtags: #WomenInBlockchainBr #correntedemulheres #sororidade #girlpower #heforshe