A IBM é uma das maiores empresas mundiais do setor de tecnologia e uma das que mais vem explorando a blockchain em todo o mundo, integrando o consórcio Hyperledger, que trabalha em diversas soluções empresariais por meio de uma blockchain privada. Big Blue, como é conhecida, a fabrica de hardwares e softwares, além de oferecer serviços de infraestrutura, serviços de hospedagem e serviços de consultoria nas áreas que vão desde computadores de grande porte até a nanotecnologia.
A empresa conta com mais de 398.455 colaboradores em todo o mundo e é a quarta maior empresa da área de TI do mundo. A IBM detém mais patentes do que qualquer outra empresa norte-americana baseada em tecnologia e tem 15 laboratórios de pesquisa no mundo inteiro. A empresa possui cientistas, engenheiros, consultores e profissionais de vendas em mais de 150 países. Funcionários da IBM já ganharam cinco prêmios Nobel, quatro prêmios Turing (conhecido como o Nobel da computação), dentre vários outros prêmios mundiais.
Para falar sobre como a empresa vem buscando a liderança no setor de blockchain e os desafios da tecnologia para o futuro, Carlos Rischioto, Líder Técnico de Vendas de Blockchain da IBM Brasil, conversou com exclusividade com o Criptomoedas Fácil, durante os preparativos para VI Bitconf que aconteceu em São Paulo na semana passada. Confira:
Criptomoedas Fácil: Como a IBM enxerga a tecnologia blockchain e seus limites e o que está por vir com a interligação da Inteligência Artificial com a blockchain?
Carlos Rischioto: A tecnologia blockchain pode ser aplicada nos mais diversos setores da economia e pode possibilitar a transformação dos processos de negócios, principalmente nos ambientes com vários participantes, empresas e entidades. Essa tecnologia poderá trazer grandes otimizações nas cadeias de valores, melhorando o fluxo, transparência e velocidade nas trocas de informações, poderá, também ajudar a reduzir os riscos nas transações e possibilitar a criação de novos negócios baseados no compartilhamento e consenso das informações.
Um bom exemplo dessa transformação foi anunciado em junho do ano passado, em que a IBM foi selecionada por um consórcio de sete dos maiores bancos da Europa para construir e hospedar uma nova plataforma de financiamento comercial baseada no IBM Blockchain, baseado no Hyperledger Fabric.
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A plataforma destina-se a simplificar e facilitar o comércio interno e transfronteiriço das pequenas e médias empresas na Europa, contribuindo para aumentar a transparência geral das transações comerciais. Por meio de um processo de licitação competitiva global, a IBM foi selecionada pelo Digital Trade Chain Consortium, que consiste em Deutsche Bank, HSBC, KBC, Natixis, Rabobank, Societe Generale e Unicredit. A solução blockchain está sendo projetada para reduzir os custos de transação e aumentar a transparência para as PME.
Atualmente, a IBM aplica tecnologia blockchain em mais de 500 clientes em todo o mundo e em todas as indústrias. A Inteligência Artificial ou tecnologias cognitivas podem agregar ainda mais valor, ajudando principalmente na coleta e tratamento das informações a serem registradas na blockchain, bem como auxiliando na determinação de padrões e análise dos dados das transações.
CF: Hoje há uma separação clara entre reguladores e grandes empresas no universo das criptomoedas. Como você acha que este modelo atual vai se comportar no futuro próximo? Ainda existirá, entre os mercados, esta busca pela distinção legal do: bitcoin = bolha e crime / blockchain = tecnologia e revolução? Você acredita que existirá integração e interoperabilidade entre as blockchains públicas e privadas?
CR: Apesar dos dois terem uma origem muito próxima, a blockchain vai muito além do universo das criptomoedas – esta é apenas uma das aplicações da blockchain e que tem toda uma complexidade de regulação, aceitação e aplicação prática. As aplicações de blockchain em outros casos de uso são muito mais abrangentes e podem trazer benefícios diretos a praticamente qualquer cadeia de valor, permitindo a otimização ou a criação de novos negócios.
É natural que a separação entre criptomoedas e blockchain exista, justamente por serem conceitos diferentes. As criptomoedas representam um caso de uso, enquanto blockchain é uma tecnologia que possui diversos casos de usos. A possível integração entre blockchains públicas e privadas acontecerá quando existir sinergia entre os casos de usos dos dois modelos. O que irá direcionar a interoperabilidade entre diferentes redes serão as necessidades e as oportunidades de negócios. A tecnologia, por si, permite que essas integrações aconteçam.
CF: Como soluções como esta podem ser usadas em conjunto com o Hyperledger?
CR: A IBM foca nas soluções de blockchain privadas, orientadas a negócios. Uma das principais vantagens das blockchains privadas é justamente a possibilidade de utilizar algoritmos de consenso mais leves e eficientes, além da possibilidade da criação de canais, que permitem uma melhor separação das transações e gerenciamento do tamanho do legder. Sendo assim, esse tipo de rede não sofre dos mesmos gargalos presentes na blockchain de algumas criptomoedas. Hoje já temos soluções baseadas em Hyperledger Fabric que ultrapassaram a barreira das mil transações por segundo.
CF: Organizações pelo mundo estão buscando adotar padrões para a blockchain. Como esta “entrada” dos agentes regulatórios e normativos pode impactar o mercado e como a IBM está se preparando para este processo?
CR: É importante separarmos essas ações em duas frentes distintas. No primeiro caso, a busca por padronização que a ISO e a ABNT buscam está focada na tecnologia de blockchain, focando em aspectos como a padronização de nomenclatura, arquiteturas de referências, casos de uso, entre outros. Esse movimento de padronização é muito importante, pois pode facilitar a adoção da tecnologia por empresas e entidades governamentais, além de facilitar a troca de informações entre diferentes países. A IBM tem participado ativamente desse trabalho, inclusive com representantes ativos, tanto na ISO quanto na ABNT.
Num segundo aspecto, temos o trabalho dos reguladores do sistema financeiro, focado na padronização e regulação das criptomoedas como instrumento econômico, porém não acompanhamos esse aspecto do uso da blockchain.