O Criptomoedas Fácil, em parceria com a CCN, agência de notícias norte-americana, atento aos desenvolvimentos relacionados à blockchain e como a tecnologia pode mudar a forma como nos relacionamos socialmente, entrevistou Nimrod May, um dos responsáveis pela Sirin Labs, startup que está desenvolvendo o Finney, primeiro smartphone do mundo a operar com a tecnologia blockchain. O dispositivo será fabricado pela gigante Foxconn e irá utilizar o Android como seu sistema operacional.
May falou que, por enquanto, a empresa não tem planos de comercializar o produto no Brasil, além disso, ele já poderá vir integrado com a rede de pagamentos Lightning Network. Entre os temas abordados, ele também falou que IOTA e Cardano são tecnologias que estão sendo pensadas para serem usadas no smartphone, que terá reconhecimento digital e de íris. Confira a entrevista completa:
Criptomoedas Fácil: A Foxconn anunciou que fabricará o Finney, certamente um dos produtos mais esperados da Sirin Labs, o que isso significa para a implementação do produto e como vocês acreditam que a maior empresa de fabricação de eletrônicos pode ajudar nessa ‘guerra’ pela inovação em smartphones?
Nimrod May: A revolução do Go Crypto está crescendo e ao escolher a Foxconn para construir o Finney estamos demonstrando que nossas intenções são reais e atendem o desejo do grande público, de ter acesso a um smartphone que seja realmente capaz de operar com segurança e integrado à tecnologia cripto/blockchain. Esta combinação de alto nível, entre a Foxconn e a Sirin Labs, vai permitir não apenas o desenvolvimento do Finney, mas a sua expansão para um mercado global.
CF: Uma das principais características do Finney e que gerou mais polêmica é ser o primeiro celular do mundo a integrar a tecnologia blockchain, qual é o grande benefício do uso dessa tecnologia nos smartphones?
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NM: Atualmente, existem muito poucos (se houver) usos para criptomoedas ou blockchain no ambiente mobile. Existem dois fatores principais que impedem a operação de criptomoedas neste ambiente e, por extensão, impedem a adoção em massa da tecnologia: o primeiro é o ambiente amigável. Criptomoedas são, atualmente, incrivelmente complicadas de entender para o grande público. A curva de aprendizado é incrivelmente íngreme e a maioria das pessoas tem muito pouco interesse em aprendê-la. O segundo ponto é segurança, pois os smartphones e dispositivos móveis como um todo são hackeados o tempo todo e as pessoas ficam apreensivas ao usar e utilizar criptomoedas nesses dispositivos.
Por meio do Sirin OS pretendemos criar uma experiência segura e simplificada para criptomoedas e blockchains, de modo que qualquer pessoa possa escolher um dispositivo e uma função dentro do mundo da criptomoedas sem precisar aprender nenhuma informação adicional. Além disso, o Finney conterá uma carteira de armazenamento offline (cold wallet), que será separada nos níveis de hardware e software do restante do telefone. Ele também terá uma segurança significativa incorporada, como o sistema de prevenção de intrusão de aprendizado de máquina.
Por fim, através de nosso serviço de conversão de tokens (TCS), os usuários poderão converter seus ativos digitais em qualquer criptomoeda ou token que desejar. Simplificando, o TCS permitirá que os usuários usem as moedas que precisam para concluir transações que exigem moedas que não possuem, por exemplo, você possui Ethereum e precisa pagar uma compra com Waves, o TCS vai permitir esta conversão automaticamente de forma segura. Essas melhorias têm a capacidade de trazer a tecnologia cripto/blockchain para a população e, finalmente, permitir a adoção em massa.
CF: O sistema operacional do Finney será Android, isso significa que toda biblioteca de apps para o sistema Google também será aceita no Finney ou os desenvolvedores terão que fazer adaptações?
NM: O Sirin OS conterá duas lojas de aplicativos pré-instaladas. Haverá a loja regular do Google Play e a loja descentralizada da Sirin Labs. O Google Play Store permitirá que os usuários façam o download de todos os aplicativos que estão sendo usados no momento, sem a necessidade dos desenvolvedores fazerem alterações. Além disso, lançaremos um SDK para que os desenvolvedores possam liberar os aplicativos dentro da loja DApp que aceitarão a criptomoedas como pagamento.
CF: Com o recente escândalo envolvendo o Facebook, um debate ressurgiu sobre a proteção de dados e como eles são obtidos e armazenados na maior parte do tempo, sem a consciência do usuário. Como um celular blockchain vai resolver este problema?
NM: A Sirin Labs supervisionará a segurança do telefone e da carteira para impedir, em tempo real, intrusões maliciosas. No entanto, o acesso de qualquer aplicativo legítimo aos seus dados é obtido por meio do ecossistema Android. Por fim, os usuários precisam ser responsáveis ??por suas próprias informações pessoais. Os aplicativos podem ter tanto acesso quanto o usuário fornece a eles. Quando um aplicativo é baixado, ele solicita permissões e cabe ao usuário conceder ou negar essas permissões. Se o aplicativo está solicitando acesso aos seus contatos, talvez não seja o para instalar.
CF: No início do projeto, a Sirin anunciou que usaria o Tangle da IOTA, mais tarde, uma blockchain foi anunciada. As tecnologias funcionarão juntas ou haverá uma substituição e por que a escolha de Tangle para o produto?
NM: Nenhuma decisão final foi tomada ainda. No momento, estamos trabalhando com as equipes de desenvolvimento para IOTA, Cardano e várias outras plataformas de protocolo blockchain, a fim de avaliar quais seriam os que mais beneficiariam nossos usuários.
CF: Recentement, a Lightning Labs lançou a Lightning Network, uma solução de segunda camada que promete resolver os problemas de escala do Bitcoin e permitir Swaps Atômicos, entre outras coisas. Como o Finney terá uma carteira offline integrada, é possível integrar com a LN no futuro?
NM: Nossa equipe de desenvolvimento já está explorando a Lightning Network, tanto para o Sirin OS quanto para o Finney.
CF: Os mercados iniciais do Finney envolvem nações da Europa e da Ásia, existe interesse em expandir a comercialização também no Brasil e na América Latina, tendo em vista que o Brasil, por exemplo está entre os maiores mercados de Bitcoin do mundo?
NM: Embora o Brasil seja um dos maiores mercados para o Bitcoin, de acordo com nossa pesquisa, ele não está entre as principais comunidades de criptomoedas em geral. Nós planejamos absolutamente ter uma presença dentro da América Latina, mas não estabelecemos onde neste momento.
CF: Uma das grandes questões que estão sendo debatidas pelos governos em todo o mundo é a regulamentação do mercado de criptomoedas. Como você acha que o Finney pode ser beneficiado ou mesmo prejudicada por este processo que foi conduzido pelo G20 e na Europa, com a liderança da França?
NM: Conforme declarado em seu site: “os objetivos do GAFI são estabelecer padrões e promover a implementação efetiva de medidas legais, regulatórias e operacionais para combater a lavagem de dinheiro, financiamento ao terrorismo e outras ameaças relacionadas à integridade do sistema financeiro internacional”. Até certo ponto, não vemos como essa iniciativa nos afetaria de alguma forma. Somos uma empresa de tecnologia em crescimento, com foco na produção de produtos tradicionais e que operam com total transparência. Se há indivíduos que estão usando criptomoedas para lavagem de dinheiro e terrorismo e a regulamentação pretende retirar estes indivíduos do mercado, isto pode ajudar as criptomoedas em geral trazendo mais credibilidade àquelas que operam legalmente.
CF: Hoje, líderes mundiais tradicionais como Bosch, Volkswagen e fintechs como Google, Microsoft e IBM estão desenvolvendo conectividade com a indústria de IoT, que certamente será integrada à Inteligência Artificial. O Finney, que deve estar pronto em outubro, já prevê este tipo de integração ou acha que o setor de IoT ainda está em estágio inicial?
NM: Ainda é muito cedo para tratar deste assunto, mas é algo que estaremos seguindo de perto.
CF: Muito tem sido especulado, inclusive entre os governos, que a tecnologia blockchain pode ajudar a reduzir as desigualdades sociais e capacitar pessoas que vivem hoje à margem da sociedade, inclusive promovendo uma revolução entre a população não bancarizada. Você acredita que a blockchain realmente tem o potencial de ajudar neste processo? Como um smartphone como Finney, que deve chegar ao mercado por US$200 dólares, pode ajudar, especialmente os jovens, a ter uma nova perspectiva?
NM: Acreditamos que o Finney e o Sirin OS têm a capacidade de ajudar tremendamente a população não bancarizada. Esta é a revolução blockchain. É a primeira vez na era moderna, onde a sociedade será capaz de manter com segurança suas próprias economias sem a necessidade de um banco. Além disso, nosso protocolo P2P de segurança proprietário tem a capacidade de permitir que indivíduos dessas comunidades vendam seus produtos sem incorrer em custos de distribuidores ou varejistas, mas também fornecerão um novo fluxo de receita em que esses indivíduos podem monetizar os recursos de seus dispositivos.
CF: Como as redes P2P funcionam no Finney, por exemplo, estou sem bateria no meu celular, como, através do token eu posso comprar energia e carregar a bateria?
NM: O compartilhamento de bateria era simplesmente um “caso de uso” para o protocolo P2P seguro. O que nossa equipe construiu dentro do Sirin OS é uma forma de monetizar com segurança os recursos do seu telefone através da blockchain. Quando ativado, você poderá trocar qualquer coisa da energia da bateria através de uma conexão direta até poder de processamento através da nuvem ou mesmo WiFi através de uma rede local, sem medo de colocar os dados do seu telefone ou segurança em risco, sendo pago em tokens SRN através da blockchain.