Allex Ferreira, o Barão do Bitcoin, é um dos brasileiros mais conhecidos na comunidade de ativos digitais do Brasil e do mundo. Desde 2011 negociando bitcoin no mercado P2P e com operações no mercado de mineração na China, ele contou com exclusividade ao Criptomoedas Fácil que pretende ainda em 2018 abrir uma loja física de bitcoin em São Paulo.
Na conversa com nossa equipe, Allex Ferreira também deu sua opinião sobre o atual momento do mercado, falou sobre investimentos em mineração, deu sua visão sobre a utilidade do bitcoin e de outros ativos digitais e fez críticas à operação das exchanges. Para ele, a alma do bitcoin é peer-to-peer.
Confira a entrevista na íntegra:
Criptomoedas Fácil – Qual a sua visão atual sobre o mercado de bitcoin no mundo e no Brasil?
Allex Ferreira – Para além da questão do preço do bitcoin, que eu considero uma coisa um pouco sem importância, o que posso dizer é que, mais ou menos nos últimos seis meses, o bitcoin, que até então era principalmente usado como uma tecnologia para transportar dinheiro de um lado para o outro, passou a ser muito mais usado, principalmente por novatos, como instrumento financeiro especulativo que deixou muita gente rica e também fez muita gente que achava que iria enriquecer do dia para noite se sentir idiota por ter perdido 50%, 60%, 70%. Eu acho que agora, depois que o preço chegou nesse patamar de US$ 7 mil, tem muito menos gente achando que vai ficar milionário rapidamente do que havia no final do ano passado. Por isso, eu vejo no Brasil e no mundo um esfriamento entre os especuladores novatos. Agora, aquelas pessoas que precisam mandar dinheiro do ponto A para o ponto B continuam usando o bitcoin para isso e vão continuar cada vez mais, principalmente agora que as taxas de transação da rede voltaram a ficar baratas. Aquela pressão de compra que vimos no final de 2017 foi muito positiva para apresentar a tecnologia para muita gente no mundo que ainda não tinha sequer ouvido falar. Mas, ao mesmo tempo, eu acho que ela pode ter deixado muitas cicatrizes naquelas pessoas que literalmente não sabiam o que estavam comprando e foram induzidas devido ao frenesi causado pela alta do bitcoin.
CF – Como você avalia o serviço prestado pelas exchanges no Brasil?
AF – Eu acho que se alguém disser que as exchanges de bitcoin no Brasil prestam um bom serviço, eu discordaria, porque eu acho que ela estão longe de prestarem um bom serviço. Eu vejo dois perfis de usuários dentro das exchanges. Um deles é o trader, o cara que compra e vende com frequência dentro da plataforma, e esse cara não tem como fugir da necessidade de operar na exchange. Agora, tem o cara que quer comprar bitcoin para usar, guardar ou para especular. Esse perfil de usuário não precisaria depender da exchange. É um pé no saco comprar bitcoin por meio de uma exchange. É demorado, é burocrático, é caro, tem muita taxa, tem um enorme risco da sua conta ser invadida por um hacker. Eu já escrevi um artigo sobre isso no meu blog. Eu acho que o propósito principal do bitcoin é eliminar os agentes intermediários. E o que são as exchanges senão um intermediário? A gente viu no final do ano passado, e não foi apenas no Brasil, no mundo inteiro as exchanges tiveram problema para atender a demanda. Basta lembrar o caso da Coinbase, a maior exchange do mundo, com um dos maiores volumes, e que teve muitos problemas durante o pico de demanda. Aí alguém vai dizer: mas, poxa, a demanda subiu muito. É verdade, subiu demais, mas se fosse mais fácil e rápido comprar bitcoin via exchange não teria emperrado tanto o processo. Isso sem dizer que as exchanges induzem o consumidor leigo a comprar bitcoin com propagandas sobre a rentabilidade do bitcoin que, na minha opinião, não deveriam existir. Ou deveriam vir com um disclaimer bem grande, igual esses nos maços de cigarro, alertando sobre os riscos envolvidos naquilo.
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CF – Qual a situação atual do mercado de Bitcoin P2P?
AF – Nunca teve melhor. Hoje, se você quiser comprar 1000 bitcoins pelo Skype você consegue. A liquidez do mercado peer-to-peer tem crescido bastante e isso está totalmente relacionado à falta qualidade e rapidez do serviço que as exchanges prestam e também, obviamente, à burocracia envolvida em uma operação com uma exchange, porque elas têm que seguir todas as regras de compliance, como Know Your Customer (KYC), regras de Anti-Money Laundering (AML). A gente vê que na Europa, no Canadá, na China, as negociações diretas estão crescendo muito. Esse é o espírito do bitcoin. Eu sempre falo isso e vou repetir: a alma do bitcoin é P2P. No Brasil, o mercado P2P ainda precisa de mais gente. Tem pouca gente como eu que pode oferecer alta liquidez.
CF – Você acredita que o mercado de Bitcoin precisa de regulamentação?
AF – Precisa, e precisa de forma séria e rígida e com multas pesadas para quem infringir as regras. E aqui eu estou falando de uma regulamentação do mercado das exchanges, porque o bitcoin em si é quase impossível de ser regulado. É só olharmos para a China para percebermos isso. A questão principal é que tem muita exchange dizendo por aí que promove a tecnologia do bitcoin, mas na verdade isso é balela. O que eles fazem é vender um produto virtual, sendo este produto em questão o próprio bitcoin. A exchange nada mais é do que uma plataforma na qual as pessoas trocam dinheiro por um produto que poderia ser qualquer coisa, poderia ser até paçoca. Eu acho que precisa ser criado um manual de conduta para as exchanges. Está muito claro que os governos do mundo inteiro estão se articulando para criar regulações para esse mercado. O primordial para mim é alertar o novo usuário sobre o que ele está efetivamente comprando. Bitcoin é uma tecnologia muito poderosa, mas ela exige muito conhecimento do usuário. O cara precisa saber o que está fazendo. E as exchanges parecem não estar preocupadas com isso. Elas só querem vender e pronto.
CF – Na sua opinião, quais as barreiras existentes para a expansão do Bitcoin?
AF – Existem muitas barreiras, mas tem duas coisas que eu acho que travam muito o crescimento da tecnologia. A primeira coisa é que falta informação de qualidade para o cara novo que está conhecendo o bitcoin. Muita gente fica se baseando nas opiniões desses economistas de barba bem feita e terninho, que ficam usando vernáculos sofisticados, mas no final das contas, esses caras não entendem nada. A mídia também fala muita besteira e confunde o cara novo. As discussões no Facebook são pífias. Modéstia à parte, tirando o meu grupo Bitcoin Blockchain no Facebook, o resto é tudo um lixo. Eu tenho muita consciência desse problema e por isso mantenho o blog baraodobitcoin.com onde trago conteúdo de qualidade. Sempre procuro grandes artigos e peço para os autores se posso traduzir e trazer esse conteúdo para o público brasileiro. A segunda questão que emperra o bitcoin é que ainda falta um caso real em alguma cadeia de suprimento no qual o bitcoin é usado de ponta a ponta. Do produtor de batata até o consumidor de batatinha frita na lanchonete, enfim todos os participantes da uma cadeia precisam estar conectados por meio do bitcoin. Enquanto não tivermos isso, o bitcoin vai continuar sendo uma tecnologia de nicho e restrita a um grupo seleto de pessoas que são mais familiarizadas com tecnologia e que possuem um poder aquisitivo alto.
CF – Como você enxerga a indústria de mineração atualmente?
AF – Eu tenho uma visão e conhecimento do negócio de mineração de bitcoin que poucas pessoas no Brasil têm. Todo esse tempo que estou na China me ajudou muito a entender melhor esse mercado. Vou resumir: mineração é um cálculo matemático. O investidor que entra nessa indústria precisa ser bom com números. E eu vejo muitos brasileiros tentando entrar, mas os caras não conseguem fazer a equação. No momento atual, com o bitcoin em torno de US$7 mil, o retorno sobre o investimento está bastante prejudicado, principalmente as altcoins, que sofrem junto com o bitcoin. O investimento é alto e de médio e longo prazo. É arriscado, mas o investimento se provou no passado recente que pode ser bem sucedido, por isso que continuo vendendo máquinas, apesar de toda dor de cabeça que os chineses me dão. Sou um dos únicos brasileiros com acesso direto aos fabricantes dos equipamentos. Além da questão do retorno sobre o investimento estar magro no momento, temos também uma mudança no panorama mundial da mineração. A China vem perdendo espaço para outras regiões do mundo. Eu mesmo irei mover minhas máquinas da China para a Europa. O governo chinês é uma caixinha de surpresas. Existe muita instabilidade política quando o assunto é bitcoin. De uma hora para outra, eles podem decidir chutar todo mundo para fora. Por isso, para proteger os meus negócios e a minha reputação, eu estou de mudança para a Europa.
CF – Para onde você vai levar as suas máquinas?
AF – Isso eu não posso dizer. É segredo.
CF – Como você avalia outros ativos digitais, como o Bitcoin Cash, Ethereum, Litecoin…
AF – Eu sei que tem muita gente que acha que o bitcoin vai ser ultrapassado por alguma altcoin, mas isso não vai acontecer. O bitcoin tem o maior número de desenvolvedores, a maior liquidez e a plataforma mais robusta. Nenhuma outra altcoin teve o efeito de rede do bitcoin. Eu não sou, nem nunca fui fã de nenhuma altcoin, mas eu mantenho meu olho aberto para o cinco ou seis maiores ativos. Eu escuto muito o que o Vitalik Buterin fala, acho ele inteligente e um cara que tem profundo conhecimento da matéria, mas o que eu penso hoje sobre o Ethereum é diferente do que eu penso sobre o Vitalik. A ideia da plataforma do Ethereum é muito, mas requer um nível de conhecimento muito elevado do programador que vai escrever algum contrato inteligente ou aplicativo descentralizado para rodar na plataforma. Esses programas mexem diretamente com o dinheiro dos outros e requerem um alto nível de segurança. Esse programador de alto nível é muito raro no mercado e os que existem já estão contratados e ganhando muito bem. Os contratos inteligentes sofrer fraudes, falhas, já teve muito dinheiro perdido com isso e vai continuar tendo. E isso não quer dizer que o cenário não vai se alterar daqui dois, três anos, pode ser que sim e pode ser que isso até impacte no preço, mas hoje a utilidade do Ethereum é passível de ser debatida. O que se vende no Ethereum é uma utilidade futura. Sobre o Litecoin, eu gosto muito do Charlie Lee e é a mesma coisa do caso do Ethereum. Eu admiro o criador, mas tenho dúvidas sobre a criação. Agora falando sobre o Bitcoin Cash, vou ser curto e grosso: para mim, é uma piada. É um stand-up comedy show. Eles acham que podem fazer o que o bitcoin faz, mas não chegam nem perto. É um copy-cat do bitcoin. Por trás, a gente tem um cara que é o fake Satoshi (Craig Wright) e o Roger Ver, que é um ex-preso. Não podemos levar gente com passado e presente duvidosos a sério. Apesar disso, eu vendo muita máquina de mineração para altcoins, tenhos bons fornecedores de GPUs. Tem muita gente que compra comigo.
CF – Quais os seus planos para 2018?
AF – Quero continuar negociando bitcoin como sempre fiz desde 2011, quero continua mantendo o meu blog e o meu grupo no Facebook, porque eu acredito que educação é essencial nesse mercado. Justamente por isso, eu vou lançar ainda esse ano um livro sobre bitcoin para iniciantes. Vou trazer toda a minha visão e bagagem nesse mercado. O livro já está em produção e está ficando muito legal. Além disso tudo, eu vou abrir uma loja física para comprar e vender bitcoin. Já está mais do que na hora de termos um canal de vendas desse, assim poderei atender clientes que geralmente eu não atendo, pessoas que querem comprar poucas quantias de bitcoin. Tem muita gente que quer comprar pouco e não quer comprar pelo telefone, então o cara vai poder ir na minha loja. Vou abrir uma loja em São Paulo, ainda estou escolhendo o lugar, mas deve ser entre Avenida Paulista, Vila Olímpia ou Faria Lima.
CF – Qual a sua expectativa de preço para o Bitcoin em 2018 e para o futuro?
AF – A minha expectativa? Nenhuma. Eu não olho para o preço. O preço do bitcoin não tem significado. Eu uso bitcoin como uma tecnologia de transferência de valores. Por isso, eu tenho uma certa bronca por essas pessoas que tentam prever o futuro e o preço do bitcoin. Não existe bitcoin caro ou bitcoin barato. O bitcoin é um encanamento para passagem de dinheiro. Pouca gente entendeu isso.
CF – Como as pessoas podem entrar em contato com você?
AF – Basta me procurar pela página do Barão do Bitcoin no Facebook.