Uma campanha lançada pela gestora de criptoativos Grayscale causou irritação entre os defensores do ouro como investimento – os chamados “gold bugs”. O vídeo faz parte da campanha “Drop Gold” (largue o ouro, em tradução livre), que busca divulgar as vantagens dos criptoativos sobre o metal precioso.
O vídeo em si, que possui 39 segundos de duração, é uma sátira que mostra muitas das desvantagens que os investidores de criptoativos veem no ouro. A peça mostra pessoas carregando pesadas barras de ouro em carrinhos de supermercado, acorrentadas nas pernas e até mesmo arrastadas por carros de luxo. O objetivo é mostrar que o ouro é pesado, volumoso e difícil de transportar – ao contrário do Bitcoin.
Além disso, o vídeo também insinua que o Bitcoin possui real utilidade, ao contrário do ouro.
“Bitcoin é seguro, sem fronteiras, e, ao contrário do ouro, possui real utilidade. É hora de largar o ouro e ser digital”, afirma trecho da campanha.
Metal versus digital
A campanha irritou muitos investidores e empresas que operam negociações com ouro, que imediatamente fizeram suas críticas à postura da Grayscale.
Em particular, a GoldMoney, empresa que faz venda de ouro, está fazendo um grande esforço para convencer o público investidor de que o metal amarelo é “superior” ao Bitcoin e não o contrário, como afirmam os anúncios da Grayscale. A empresa de metais preciosos criou um infográfico e um whitepaper que visam nos convencer de que o ouro não é tão ruim quanto a propaganda afirma.
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O fundador da GoldMoney Roy Sebag tem muito a dizer sobre o assunto. Seu whitepaper começa citando Barry Silbert, fundador da Digital Currency Group, empresa que atua de forma similar à Grayscale:
“A campanha publicitária ‘Drop Gold’ foi, na minha opinião pessoal, mal concebida, e – como afirmei repetidamente nas mídias sociais – é tão absurda em sua natureza a ponto de parecer frases como “largar o oxigênio” ou “largar o cobre”. Em suma, acredito que esta campanha não será bem lembrada e corre o risco de enfraquecer os ideais e objetivos da comunidade de criptoativos, que, na maioria das vezes, são bem intencionados em seu desejo de reorientar a sociedade para um retorno aos princípios do dinheiro-mercadoria sólido, que ressaltaram e amplificaram a proliferação de sociedades cooperativas humanas desde tempos imemoriais até o passado muito recente (com a suspensão historicamente inédita e ostensivamente temporária do padrão-ouro de Richard Nixon em 1971). Para ser ainda mais explícito, sou solidário com a visão da comunidade de criptoativos e sinto que a Grayscale e o Sr. Silbert, por meio dessas ações, cometeram um erro crítico de julgamento que não representa a comunidade nem é benéfico para seus objetivos principais.”
Sebag critica um dos argumentos do vídeo que mostra o Bitcoin como sendo mais leve de carregar do que o ouro. O argumento dele é que o Bitcoin, na verdade pesa mais do que o ouro. Afinal, ele está hospedado em servidores pesados!
Além disso, ele nos diz que o ouro tem utilidade implícita – como uma coisa usada para criar mais Bitcoins. Seu argumento: a maioria dos chips de mineração, utilizados nas máquinas que mineram os criptoativos, possuem ouro em sua composição.
“O Bitcoin precisa de ouro para existir”, escreveu Sebag. “O ouro não precisa que o Bitcoin exista.”
Enquanto Sebag poderia ter utilizado argumentos mais sólidos – como o de que o Bitcoin, como um recurso digital, é invisível, insípido e inodoro, enquanto o ouro é um objeto físico que você pode usar em torno do pescoço – seu ponto é simplesmente que o ouro ainda não deve ser descartado como um bem valioso.
O mercado, obviamente, concorda com ele. O preço ouro está cotado bem acima de US$1.000 a onça. Muitos países, inclusive, buscam unir o melhor dos dois mundos desenvolvendo criptomoedas que possuem lastro em ouro. O quanto deveríamos ter de ouro como investimento, no entanto, ainda é uma decisão difícil e bastante pessoal – assim como investir em criptoativos.
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