Rússia, Venezuela, Irã e Coreia do Norte. Muita coisa une esses quatro países: governos autoritários ou ditatoriais, economias intervencionistas em quase todos os aspectos, e o fato de sofrerem sanções econômicas por parte das grandes nações mundiais, principalmente dos Estados Unidos.
Outro fator que recentemente colocou os países com interesses foi a tecnologia, em especial a parte de ativos digitais. Esse grupo de países resolveu investir esforços para criar as suas próprias criptomoedas nacionais.
Blindagem contra sanções
Os motivos para cada um deles embarcar nessa empreitada são variados, mas pelo menos alguns deles se mostram presentes entre os quatro. Segundo a agência de classificação de risco Weiss Ratings, pelo menos três deles alegaram motivos semelhantes.
- Irã, cuja rede de televisão estatal alegou que uma criptomoeda seria um “veículo para contornar sanções, pois essas moedas digitais não estão sob a supervisão do corpo regulatório americano”;
- Rússia, onde o conselheiro financeiro de Vladimir Putin, Sergei Glazyev, apoio a criação do criptorublo sob a justificativa de “acertar contas com nossos parceiros em todo o mundo, sem nenhuma preocupação por sanções.”
- Venezuela, primeiro país a lançar uma criptomoeda estatal. Segundo o Financial Times, o presidente Nicolás Maduro afirmou que o Petro (nome da moeda) serviria como uma “kriptonita” contra o poder do governo americano.”
Quanto ao regime norte-coreano, o portal The Hill afirmou em janeiro que o país também estava de olho nas criptomoedas como forma de atenuar as sanções impostas contra si. Além disso, uma oficial de segurança cibernética da NSA afirmou que o regime de Kim Jong-un teria lucrado algo entre 15 e 200 milhões de dólares com atividades relacionadas a mineração de ativos digitais. Isso, claro, sem mencionar as suspeitas de participação norte-coreana em ataques hackers contra a Coreia do Sul, em maio.
Mas será que esses países têm condições de endossar a criação de uma verdadeira moeda digital? Ou será que qualquer outro estado pode fazê-lo?
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Criptomoedas e suas características
A Weiss Ratings resolveu abordar o tema em um texto enviado aos seus assinantes. No texto, a agência de risco discute as características de uma criptomoeda e faz dois questionamentos sobre a viabilidade de um sistema estatal de ativos digitais.
O primeiro desses questionamentos se refere à capacidade de um governo poder criar um ativo digital. Segundo a empresa, uma criptomoeda estatal – especialmente de um estado com histórico de autoritarismo – seria uma contradição em termos, posto que essa criação viola totalmente as características de um ativo digital, as quais a agência lista como sendo:
- Resistência a censura, o que constitui uma verdadeira ameaça contra estados autoritários;
- Ser um sistema aberto a todos, sem permissão de governos; algo impossível em um sistema onde o estado detém o controle;
- Um meio de pagamento sem fronteiras, impensável em um regime cujo objetivo é restringir ao máximo o fluxo de saída de capital, seja financeiro ou humano;
- Descentralização, a contradição perfeita com a característica centralizada de um regime autoritário.
A segunda questão diz respeito ao estabelecimento, com os ativos digitais endossados pelo estado, de um novo sistema de pagamentos internacional, o que daria aos seus detentores o controle sobre as formas de pagamento feitas por outros países. Para a Weiss, tal cenário seria mais plausível de acontecer, desde que os estados tivessem capacidade de lidar com a enorme demanda de pagamentos que seria gerada.
Caso um governo conseguisse criar um sistema que fosse mais eficiente e barato do que o atual SWIFT, ele poderia se tornar uma alternativa razoável para os países que desejem evitar sanções econômicas de grandes potências.
Devido a esse risco, a Weiss Ratings fecha o texto com um alerta sobre a necessidade de se encontrar novas e mais eficientes formas de pagamento, de modo a evitar que estados com viés ditatorial possam sair na frente nessa corrida e impedir o efeito de embargos econômicos.