O grau de descentralização das chamadas Organizações Autônomas Descentralizadas (DAO, na sigla em inglês) não é tão alto, conforme aponta o último relatório da empresa de análise Chainalysis.
De acordo com a publicação, menos de 1% dos detentores de todas das principais DAOs têm 90% de poder de voto. Ou seja, as decisões de gestão das DAO são tomadas por uma minoria muito irrisória.
Um exemplo desse controle, citado pelo relatório, é o caso do protocolo Solend, criado na rede Solana. Conforme noticiou o CriptoFácil, o maior detentor de tokens do protocolo quase teve seus fundos bloqueados numa votação, na qual 90% dos votos veio de apenas uma entidade.
Além disso, o documento mostra que, como os DAOs abrangem uma variedade de projetos e serviços na Web3, a categoria DeFi responde por 83% de todo esse valor, e 33% de todos os DAOs por contagem.
Poder de voto concentrado em poucos players
As DAOs são conhecidas pela estrutura supostamente bottom-up. Isto é, uma rede construída de baixo para cima. Com isso, uma DAO permite que uma comunidade controle totalmente seu processo de tomada de decisão de forma democrática.
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Nesse sentido, cada DAO possui um token de governança que dá aos seus detentores o direito de votar nas decisões. Dessa forma, as DAOs deveriam ter seus tokens espalhados entre uma grande quantidade de usuários.
O relatório da Chainalysis leva em conta as dez principais DAOs do mercado. Após a análise, a empresa revelou dois dados preocupantes:
- um usuário deve deter entre 0,1% e 1% total de tokens para criar uma proposta;
- é preciso ter entre entre 1% e 4% para aprovar a proposta sugerida.
“Usando esses intervalos como limites inferior e superior, descobrimos que entre um em 1.000 e um em 10 mil desses dez titulares de DAOs têm tokens suficientes para criar uma proposta”, diz o relatório.
Em outras palavras, somente os grandes usuários conseguem propor e votar nas propostas. Quanto mais tokens um usuário tem, maior é o seu poder de voto. E o poder de voto das DAOs, na verdade, está concentrado nos grandes holders.
Com 90% dos tokens nas mãos de menos de 1% dos usuários, isso significa que as decisões da DAO estão nas mãos de poucas pessoas. Além disso, as DAOs estabelecem altos requisitos para que os usuários possam votar, o que também vai contra ao princípio da descentralização.
Exemplo da Solend
A Chainalysis citou o exemplo da Solend como resultado do poder concentrado entre os DAOs. Os usuários do protocolo votaram para congelar os fundos de um grande investidor e evitar risco de liquidez do protocolo.
Só que a polêmica não foi apenas da decisão de bloqueio, e sim com a votação em si. Afinal, dos mais de 1,4 milhão de votos a favor da proposta, 90% vieram de um único holder. Apenas uma entidade decidiu o futuro de todos os holders do protocolo.
Como era de se esperar, a votação despertou muita polêmica e irritação dos usuários, o que levou a Solend a fazer outra votação para revogar o confisco. Os usuários da DAO aprovaram a revogação, o que reverteu a decisão de bloquear os fundos do investidor.
“A proposta foi aprovada com facilidade, com mais de 1,1 milhão de votos ‘sim’ a 30.000 votos ‘não’. No entanto, mais de 1 milhão desses votos vieram de um único usuário com enormes participações em tokens de governança”, alertou a Chainalysis.
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