A história do Brasil é recheada de movimentos e revoluções em prol da liberdade, como a Revolução Pernambucana de 1817 e a Revolução Farroupilha (1834-1845). E hoje, quase 178 anos após o fim desta última, o Rio Grande do Sul volta a se destacar por causa de um movimento de defesa da liberdade. Só que ao contrário do levante liderado por Bento Gonçalves, a atual revolução não usa armas, e sim o dinheiro. De fato, ela utiliza o melhor dinheiro criado pela humanidade até hoje: o Bitcoin (BTC).
E foi o uso da criptomoeda que colocou a pequena cidade gaúcha de Rolante no mapa do BTC – literalmente. Graças ao projeto “Bitcoin é Aqui”, Rolante se transformou na nova capital brasileira do Bitcoin. De acordo com o site BTC Map, a cidade possui nada menos que 108 estabelecimentos que utilizam a criptomoeda como pagamento.
O número parece baixo, mas coloca a pequena cidade do Sul como a comunidadbrasle que mais possui estabelecimentos “bitcoinizados” em todo mundo. De fato, a cidade tem cinco vezes mais estabelecimentos no mapa do que a Bitcoin Beach de El Salvador, que aparece com 21 locais.
Todo esse sucesso se deve ao trabalho de Ricardo, sua esposa e toda a equipe responsável pelo Bitcoin é Aqui, que pretende alçar voos ainda mais altos. Em uma entrevista exclusiva ao CriptoFácil, Ricardo fala sobre o surgimento do projeto, a surpresa com o crescimento e os planos para um grande festival que ocorrerá na cidade em 2023.
Mas antes, vamos conhecer um pouco mais sobre Rolante.
Confira nossas sugestões de Pre-Sales para investir agora
Entre a urbes e as cachoeiras
Com pouco menos de 22 mil habitantes, Rolante fica a menos de 100 km da capital gaúcha, Porto Alegre. Trata-se, portanto, de uma típica cidade de interior, de tamanho pequeno e próxima a um grande centro brasileiro.
No entanto, Rolante conta com belíssimas paisagens, incluindo algumas cachoeiras de visão deslumbrante. O próprio Ricardo conta que mora próximo a uma dessas quedas d’água e explica o motivo que fizeram ele e sua esposa escolher Rolante como lar.
“Morávamos em Porto Alegre e queríamos voltar a morar no interior. Então começamos a procurar um lugar para comprar um sítio afim de experimentarmos a vida no mato. Escolhemos a cidade de Rolante por vários motivos. É uma cidade pequena o suficiente para ser pacata, segura e as pessoas se conhecerem. Ao mesmo tempo, tem um bom hospital, ter uma internet boa, comércio bom, bons supermercados e potencial para desenvolver. É uma cidade familiar, onde os domingos são calmos, mas ao mesmo tempo tem muitos pontos de turismo, como as incontáveis cascatas (eu tenho uma de 35 metros no meu sítio por exemplo)”, explica.
E foi neste local que o Bitcoin é aqui surgiu, se desenvolveu e caminhou para assumir uma liderança global.
Mudança e o Bitcoin é Aqui
CriptoFácil: Para começarmos, fala mais um pouco sobre o Bitcoin é Aqui e os números que vocês conseguiram até aqui.
Ricardo: foi umas 10x mais rápido do que eu esperava. Nossa meta era conseguir 50 pontos até o final do ano, mas já estamos quase em 110 em 70 dias. É uma loucura a velocidade da adoção (do BTC).
CF: como surgiu a ideia de levar o BTC até aí?
Ricardo: eu invisto há 20 anos no mercado financeiro. Fiz isso pois sempre quis “parar de trabalhar” cedo. Me fixando aqui, continuei atuando no ramo dos investimentos e comecei a me aprofundar no Bitcoin, coisa que eu já conhecia há muito tempo, mas sempre comprava e vendia quando dobrava de valor.
Em resumo, nunca tinha entendido o que era o Bitcoin. Como tive mais tempo, comecei a estudar muito, ler tudo que podia, o livro do Fernando Ulrich foi um dos meus primeiros, depois o do Saifedean Ammous e na sequência o do Renato Amoedo. Acho que esses três foram minhas bases. Então decidi rodar um node e nesse processo apareceu a possibilidade de rodar um node lightning.
Aquilo foi uma explosão de aprendizado. Tive a oportunidade de aprender junto e com grandes nomes como o Diego Kolling, que é um crânio nessa e em outras áreas. O node me deu a oportunidade de entender qual seria o momento em que eu teria confiança para encarar um projeto desses, de incentivar comerciantes, pessoas comuns (não nerds) a adotar o Bitcoin como forma de pagamento.
Rolante
CF: qual foi o primeiro ato que vocês fizeram aí em Rolante?
Ricardo: eu fiz um pdf de um assunto que eu não encontrava bons materiais, que era: como fazer aquela pessoa que já ouviu falar de Bitcoin, mas ainda tem alguma coisa que não entendeu direito, ou quer saber mais para ter confiança, experimentar o Bitcoin. Mostrei esse material a um amigo, que viu o potencial daquilo e me pegou pela mão, me levou para dentro da ACISA (associação dos empresários da região), apresentamos para eles e eles toparam na hora.
Então, fizemos uma palestra e lotou os 50 lugares de capacidade (em uma cidadezinha de 25 mil habitantes). Daí em diante tudo foi surpreendente. A cidade abraçou o projeto de tal forma que em 70 dias já temos mais de 100 pontos cadastrados, todos recebendo Bitcoin como forma de pagamento. O Hospital da cidade aceita Bitcoin!
Equipe e números
CF: e além de você, quem mais está no projeto?
Ricardo: no início fomos eu e um amigo, que foi quem me apresentou e avalizou tudo isso. Foi ele quem deu o nome e disse aos empresários locais: “escutem esse cara pq ele é sério. Ele vai ensinar vocês como funciona o Bitcoin e nada mais. É só conhecimento, cada um usa como quiser”. Esse cara é parte até hoje, ele trás muitas novas empresas para o bitcoin.
Logo em seguida veio a minha esposa, que entrou forte com a parte de marketing, fazendo os vídeos e todo o material para saciar a vontade das pessoas de ver a coisa acontecendo. Outros dois grandes parceiros são um cara que trabalha no turismo e outro que é contador, eles são incansáveis. Se eu seria injusto se fosse citar nomes, porque o senso de comunidade que se criou aqui é tão grande que todo mundo ajuda, sabe?
CF: sobre os números, vocês conseguiram mais do que o dobro da meta de crescimento em pouco mais de dois meses. Como tem sido a recepção dos habitantes de Rolante ao Bitcoin? Tem havido uma adoção mais espontânea da população como um todo?
Ricardo: aqui começamos pelos empresários mesmo. A população está começando a entrar agora. Mas foi tudo muito rápido, nem deu tempo para o mercado absorver isso… não deu tempo para as pessoas sequer saberem o que está acontecendo. Vocês são o primeiro canal de notícias que está documentando isso! E pelo tamanho do que está acontecendo aqui, já era para muitos outros terem documentado. Mas o curto espaço de tempo pegou todo mundo de surpresa.
Rolante e Bitcoins
CF: a quais fatores vocês atribuem esse crescimento tão rápido e elevado? Vocês chegaram a fazer alguma pesquisa ou até a perguntar aos empresários os motivos que os fizeram abraçar o Bitcoin dessa maneira (além da sua palestra)?
Ricardo: Eu entendo que hoje em dia, todo mundo que não está em uma caverna, já ouviu falar do Bitcoin, correto? Só que desses, 99% já ouviram o nome do Bitcoin atrelado a algum tipo de golpe, se é que eles mesmos não foram vítimas. O que fizemos aqui foi conseguimos uma forma de chegar nos empresários, para mostrar a eles o que era o Bitcoin, como usá-lo de forma fácil e como eles poderiam se beneficiar disso. Tudo era uma aposta, agora é uma realidade.
Inclusive é esse serviço que disponibilizamos, desde essa palestra inicial, para abordar todos os pontos-chaves que iluminam quem estava com algum mal entendimento ou dúvidas, até como usar a ferramenta no dia a dia e por fim, como uma comunidade pode se beneficiar aceitando o Bitcoin como forma de pagamento. Passando, é claro, pela questão legal e contábil.
Ecossistema e repercussão
CF: vocês superaram 100 estabelecimentos aceitando Bitcoin na cidade. Pode falar um pouco sobre como é o comércio local e quais os locais que mais estão adotando o Bitcoin aí?
Ricardo: a adoção foi bastante ampla e podemos conferir a lista tanto no site do BTC Map quanto no site do projeto. Mas uma das estratégias foi focar em serviços que ainda não tínhamos… Então, rapidamente, serviços importantes para a cidade e que todo mundo quer ver aceitando Bitcoin entraram. Não há mais a necessidade de converter se não quiser, use no comércio… e quanto mais ampla é a rede maior é esse efeito com certeza.
Hoje temos praticamente todos os serviços de saúde da cidade aceitando, desde clinicas odontológicas, quiropraxia, massoterapia, farmácia, hospital, até limpeza de piscinas, instaladores de ar condicionado, arquitetos, lojas de materiais de construção, imobiliária. Pelo menos duas famílias bitcoiners já compraram terrenos aqui e pagaram com Bitcoin.
CF: Justamente por causa disso, Rolante tem repercutido muito entre os bitcoiners, especialmente no Twitter. Vocês já sentiram algum impacto dessa repercussão?
Ricardo: sim, o apoio está incrível e explosivo. Fizemos o Pizza Day aqui e era um evento para algo como 60 pessoas, que já é enorme para uma cidade de 25 mil habitantes? O número de participantes passou de 90 e tivemos que trancar tudo um dia antes pq não tínhamos condições de receber mais ninguém.
Como disse, já foram vendidos dois terrenos. Semana que vem vou receber o representante de um grupo de mais de cinco famílias, que iriam se mudar para o interior de São Paulo, mas estão pensando em alterar pra cá devido a bitcoinização. Fora os turistas bitcoiners que estão vindo cada vez mais e os influencers como o Palavra de Satoshi e o Huberto Leal (Eu Uso BTC).
Futuro da Cidade
CF: quais são os planos para o futuro do BTC na cidade?
Ricardo: estamos montando um mega festival para dia 30 de setembro e 1º de outubro. As corretoras e players do mercado cripto que já entramos em contato estão aderindo à ideia imediatamente. Creio que com esse apoio vamos conseguir fazer algo inédito aqui no Brasil e quem sabe no mundo.
CF: vocês já têm detalhes sobre esse festival e como ele funcionará?
Ricardo: sempre pensamos que o melhor dos congressos, o que fica na memória mesmo, são os happy hours. A famosa bebida com networking, não é mesmo? Foi então que tivemos a ideia de fazer, ao invés dos congressos tradicionais, com palestras e networking, invertermos a ordem. Faremos um evento em que o foco será o networking, com música, cor, trago, mas ao mesmo tempo que tenha conteúdo (palestras interessantes) misturado com muita diversão.
Daí saiu o esboço para o Bitcoin Spring Festival, que vai ser dia 30 de setembro e 1º de agosto, em um lugar maravilhoso, em volta de um laguinho, cheio de atrações e atividades divertidas. Além disso, haverá muitas pessoas interessantes para ser interessante tanto para nós, bitcoiners, quanto para a população local e assim trazer uma enxurrada de cultura para eles.