O governo do Cazaquistão confirmou oficialmente a criação de uma reserva soberana de criptomoedas, tornando-se o primeiro país da Ásia Central a adotar essa estratégia. De acordo com o Banco Nacional, a medida segue as melhores práticas internacionais de fundos soberanos e estabelece novos parâmetros para a gestão pública de ativos digitais.
De acordo com o comunicado, a nova reserva será administrada com foco na transparência, segurança e solidez institucional. O projeto ainda está em fase de estruturação, mas já envolve órgãos reguladores, autoridades policiais e representantes do setor financeiro. A base operacional deve ficar sob responsabilidade de uma afiliada do próprio Banco Nacional.
As fontes de ativos para essa reserva incluem criptomoedas mineradas por empresas com participação estatal e ativos digitais apreendidos por autoridades públicas. Para garantir segurança, o Cazaquistão defende um modelo centralizado, com gestão institucional rigorosa e armazenamento transparente.
Reserva de criptomoedas
O Cazaquistão ganhou protagonismo global em 2021, quando absorveu mineradoras expulsas da China. Chegou a responder por mais de 27% da mineração de Bitcoin no mundo, aproveitando eletricidade barata e regulamentação frouxa.
Essa expansão, porém, gerou sobrecarga no sistema elétrico e deixou lacunas legais. A resposta veio com novas regras e forte atuação estatal, que reduziram a participação para 4% do total global em 2023. Ainda assim, o país manteve sua importância com 84 licenças emitidas e 415 mil máquinas registradas.
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Em 2024, as autoridades fecharam 36 operações ilegais, somando US$ 118 milhões em perdas evitadas, além de bloquear mais de 3.500 sites de criptoativos sem licença.
Hoje, as operações seguem o modelo 70/30, onde investidores estrangeiros modernizam usinas locais. Setenta por cento da energia vai para a rede nacional e os 30% restantes abastecem a mineração, gerando ativos digitais que irão compor a nova reserva.
Infraestrutura, regulamentação e ambição
A negociação legal de criptoativos ocorre no Centro Financeiro Internacional de Astana, que já atraiu gigantes como Binance e Bybit. Plataformas como Coinbase e Kraken, por outro lado, ainda enfrentam restrições.
A legislação também avança. O vice-governador Berik Sholpankulov confirmou emendas que criam uma estrutura legal para ativos financeiros digitais, além de um sistema de licenciamento para moedas não lastreadas.
Apesar das melhorias, mais de 90% das atividades com criptomoedas ainda ocorrem fora do ambiente regulado, o que gerou transações de US$ 4,1 bilhões em 2023. Esse dado revela o tamanho do desafio — e da oportunidade.
Competição regional e planos ambiciosos
A movimentação do Cazaquistão contrasta com o modelo mais liberal do vizinho Uzbequistão, que prioriza a adoção popular. Embora esteja à frente no ranking global de uso de criptoativos, o Uzbequistão foca o varejo, enquanto o Cazaquistão aposta no fortalecimento institucional e na atração de grandes players.
Além da reserva, o país lançou a Zona Econômica Solana Cazaquistão, em parceria com a Solana Foundation. Trata-se da primeira zona econômica da Ásia Central dedicada à Web3, reforçando a aposta no ecossistema digital.
O presidente Kassym-Jomart Tokayev também anunciou a CryptoCity, uma zona piloto onde pagamentos com criptomoedas serão autorizados no cotidiano. O plano inclui a criação de um banco estatal de criptoativos, que prestará serviços de câmbio, custódia e transações reguladas.