Os primórdios do Bitcoin no Brasil guardam histórias interessantes sobre como o mercado cripto/blockchain, que hoje movimenta milhões diariamente, foi sendo construído e uma delas envolve uma espécie de grupo que ficou conhecido como Bitcartel, pois controlavam, literalmente, o preço do Bitcoin no Brasil por serem praticamente os únicos fornecedores capazes de atender o volume de negociações de BTC que vía um aumento de demanda.
Com o suposto ataque hacker que atingiu (e fechou) o então site Mercado Bitcoin (na época de propriedade da Leonardo César), as opções para compra de BTC com real tornaram-se raras em território nacional, pois além da dificuldade em achar gente querendo vender o criptoativo, ainda existia o medo de ser ludibriado em um mercado massivamente anônimo (tudo ocorria pelo BitcoinTalk).
Naquela época, os negociantes p2p eram poucos e, com o fechamento do MB, a referência de preço do BTC no Brasil foi perdida. Desta forma, os vendedores p2p “combinaram” entre si qual seria o padrão de preço utilizado para a venda de BTC no Brasil.
Assim, surgiu uma espécie de cartel, que conseguia controlar o preço e a quantidade de Bitcoins que entrava no Brasil. No entanto, o Bitcartel não era um negócio organizado e sim vendedores p2p que operavam sozinhos e adotaram um padrão conjunto nas negociações. Um deles, que pediu para não ser identificado, com amplos conhecimentos sobre o mercado de remessas internacionais, construiu uma ampla rede de contatos que envolvia traders, mineradores, hackers e a comunidade internacional de “early adopters” de Bitcoin.
As transações funcionavam da mesma forma que atualmente, no mercado p2p, a quantidade de Bitcoins e o preço a ser pago eram fechados e, após o depósito em conta, os BTC eram transferidos, no entanto, o valor comprado tinha um spread de até 18% do valor negociado internacionalmente. “Usamos a seguinte conta, valor do BTC no MTGox, Dolar paralelo + 18%”, revela o um dos participantes do Bitcartel. A comunicação entre compradores e vendedores era feita pelo IRC, mesmo com a existência de outros aplicativos mais “modernos” como o Messenger.
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No entanto, apesar do spread, a demanda por BTC era grande e, do lado internacional, havia também uma boa quantidade de traders e mineradores interessados em vender seus Bitcoins, mas, enquanto uns confiavam no sistema de remessas, outros, geralmente aqueles com grandes quantidades de criptomoedas, preferiam que o comércio fosse feito “ao vivo”.
“Algumas vezes a gente ía buscar os BTC de avião, aproveitava uma viagem ou outra e negociava as vezes, tudo ali no aeroporto mesmo. Certa vez, negociamos 300 BTC, que era um quantidade enorme para o Brasil, com a mesma pessoa em dois aeroportos, tudo em dinheiro vivo”, revela.
Como as transações com membros que integravam o Bitcartel eram rápidas e seguras (o BTC era enviado de carteira para carteira) a “organização” foi ganhando credibilidade e conquistando mais mercado no Brasil. Mesmo com o retorno da Mercado Bitcoin e o surgimento de outras exchanges, o cartel continuou forte pois a confiança nas plataformas era sempre colocada em dúvida, enquanto que no “cartel” as pessoas eram conhecidas e os volumes maiores.
“Nossa atividade é a origem dos p2p atuais e, por nossa atuação no Brasil, viramos referência mundial entre traders e mineradores, sempre que alguém queria comprar ou vender BTC, aqui no Brasil, tinha que consultar, em algum momento os ‘membros do Bitcartel’. Mas, com o desenvolvimento do mercado nacional e internacional, e com a popularização do Bitcoin, o mercado foi se dividindo e se multiplicando, mas ainda hoje, quem quiser comprar BTC em grande quantidade no Brasil, tem que recorrer em algum momento à ‘velha guarda’ do Bitcartel, temos até 2 mil BTC a pronta entrega”, finaliza.
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