Quando, em dezembro de 2018, as comunidades Grin e Beam anunciaram que estavam próximas de lançarem suas blockchains, o mercado de criptoativos recebeu com muito entusiasmo aquelas que seriam as primeiras implantações reais do MimbleWimble, um protocolo que, entre outros pontos, procura trazer privacidade e escalabilidade para as criptomoedas.
Tanto a Grin quanto a Beam foram lançadas no início de 2019, no entanto, enquanto a Grin vem apresentando consistência, sua “irmã”, a Beam, não tem tido o mesmo sucesso por enquanto e pouco tempo após seu lançamento, ocorreu uma falha em sua wallet, que poderia comprometer os fundos dos usuários. Os responsáveis pelo projeto instruíram os usuários a desinstalarem o aplicativo imediatamente e fazer o download novamente de uma versão corrigida.
No entanto, os problemas não pararam por aí e, nesta segunda-feira, 21 de janeiro, a equipe do projeto relatou que sua blockchain está passando por dificuldades técnicas. Segundo o anúncio, a rede “parou no bloco 25709” e o problema, após identificado, foi corrigido, mas uma nova atualização foi lançada, visando corrigir a falha que, de acordo com os desenvolvedores, não teria o potencial de prejudicar os fundos dos usuários.
Recentemente, o criador da Litecoin Charlie Lee disse que tanto a Grin quanto a Beam podem proporcionar “privacidade e escalabilidade sem sacrificar nada”, dizendo que elas podem ser uma solução até mesmo melhor que o Bitcoin. A Bem foi oficialmente lançada em 03 de janeiro de 2019, enquanto a Grin foi ao ar em 15 de janeiro de 2019.
O que é Beam?
Beam é uma criptomoeda baseada em um protocolo chamado Mimblewimble (abaixo uma explicação sobre ele). Ela tem como foco principal a escalabilidade e a privacidade. As transações em BEAM são privadas por padrão e o armazenamento de todo o histórico de transações não é necessário para a validação da blockchain. Isso reduz o tamanho da blockchain e melhora a escalabilidade. O token BEAM suporta vários tipos transação, inclusive transações atômicas (Atomic Swaps).
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O time responsável pelo seu desenvolvimento reúne uma equipe de engenheiros e empreendedores, além de um conselho consultivo formado por veteranos do ecossistema cripto/blockchain. Ele usa Pedersen Commitment para provas completas de anonimato e zero-knowledge proof (prova de conhecimento zero) para garantir a validade dos valores das transações.
Para aumentar a privacidade e reduzir o tamanho da blockchain, o Mimblewimble mescla todas as saídas intermediárias em um único bloco e em vários blocos, armazenando apenas o estado atual do UTXO e tornando o tamanho da blockchain uma ordem de magnitude menor do que em outras criptomoedas e foi construído do zero usando C++ (ou seja não é um fork de nenhum outro projeto). Seus blocos são extraídos usando o algoritmo de prova de trabalho Equihash-memory, sendo que o tempo médio de cada novo bloco é de 1 minuto.
Os desenvolvimentos do Beam são mantidos pela Fundação BEAM, sem fins lucrativos, baseada na comunidade, e todos que trabalham no projeto são financiados por meio de um mecanismo de recompensa em bloco, com uma certa porcentagem de moedas, de cada bloco minerado, sendo enviadas para a fundação, atualmente, 20% da recompensa de cada bloco é destinada a fundação. Essa recompensa de bloco será eliminada após um período de cinco anos. Em Beam, os usuários podem decidir por si mesmos “quais informações estarão disponíveis e para quais partes, tendo controle total sobre seus dados pessoais de acordo com sua vontade e leis aplicáveis”.
O que é MimbleWimble?
Em 16 de junho de 2016, um desenvolvedor anônimo, denominado Tom Elvis Jedusor (o nome francês do personagem fictício de Harry Potter Voldemort), apresentou em uma sala de bate-papo de desenvolvedores do Bitcoin a proposta do protocolo pela primeira vez. Mimblewimble em si é o nome de um feitiço usado para amarrar as vítimas em Harry Potter (Harry Potter e as relíquias da morte). Jedusor deixou um link para um white paper no qual ele descreve que, usando o protocolo Mimblewimble, a escalabilidade, bem como a privacidade da rede Bitcoin, poderia ser significativamente aprimorada. Ainda em 2016, Andrew Poelstra, contribui com algumas propostas ao protocolo.
As transações Mimblewimble são uma derivação de outro tipo de transação conhecido como transações confidenciais. Concebido pelo antigo desenvolvedor do Bitcoin, Adam Back, as transações confidenciais permitem que os remetentes criptografem a quantidade de bitcoins que desejam enviar usando os fatores conhecidos como “cegadores”. Um fator de ocultação é um valor aleatório usado para criptografar valores de bitcoin em uma transação e é escolhido pelo remetente de uma transação. Quando selecionado deve criptografar adequadamente a quantia que está sendo transacionada, mas, no entanto, não deve afetar a entrada e a saída de uma transação.
Em uma transação confidencial, apenas as duas partes envolvidas estão cientes da quantidade de bitcoins sendo transacionados, os espectadores não podem saber, portanto, não é possível visualiza-la na blockchain, como acontece com o Bitcoin. No entanto, os espectadores ainda podem garantir que a transação é válida, comparando o número de entradas e saídas; se ambos forem iguais, a transação será considerada válida. Esse procedimento garante que nenhum bitcoin tenha sido criado a partir do nada e é essencial para preservar a integridade do sistema.
Em Mimblewimble, além das transações confidenciais de Adam Back, outro recurso foi implementado, conhecido como CoinJoin. Proposto por Gregory Maxwell, o CoinJoin é um mecanismo pelo qual os pagamentos de múltiplos são combinados para formar uma única transação, tornando difícil para uma parte externa determinar qual pagamento foi destinado a qual destinatário. ConJoin trabalha ofuscando as entradas e saídas dos remetentes e destinatários. Portanto, em relação às transações Mimblewimble, quando combinadas, um bloco consistiria simplesmente em uma lista de entradas, uma lista de saídas e dados de assinatura.
Isso oferece uma economia significativa de espaço nos blocos porque outros dados de transações não precisam mais ser armazenados, apenas entradas e saídas. Ao subtrair o total de entradas das saídas totais e garantir que o resultado seja zero, um blockchain construído a partir de tal sistema seria considerado válido. Isto está em contraste com o modo como as transações e, portanto, a blockchain, provou ser válido em Bitcoin. Nesse caso, o blockchain inteiro deve ser baixado e o histórico de uma saída de transação analisada para garantir sua validade.
A economia de espaço teórica, assim como a privacidade, oferecida através do uso do protocolo Mimblewimble é evidente. Removendo a blockchain de dados de transação desnecessários, a escalabilidade se torna um problema menor, porque mais transações podem ser incluídas em um único bloco. Devido à ofuscação de entradas e saídas, bem como a eliminação de endereços públicos em transações Mimblewimble, o anonimato verdadeiro, em oposição ao pseudônimo, é supostamente alcançado.
As propostas de Mimblewimble podem ser implementadas no Bitcoin (BTC), no entanto, desenvolvedores do Bitcoin Core, desde que o protocolo surgiu, tem sido recomendado que ele seja explorado em blockchains próprias (como é o caso de Beam e Grin) ou então em sidechains (que também têm uma criptomoeda própria) devido, entre outros, devido à incompatibilidade com a linguagem script.
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