2017 parece ter sido o ano da chamada “economia compartilhada“. Serviços como Uber, Cabify e Airbnb se tornaram mais populares e cada vez mais usados no país, fazendo com que pessoas pudessem utilizar seus veículos e imóveis para gerar uma renda extra no meio de uma das maiores crises dos últimos anos.
Além de proporcionar uma nova fonte de renda para seus donos, tais empresas também ajudaram os próprios consumidores ao fornecer transporte e hospedagem seguros e muito mais baratos do que os tradicionais hotéis e táxis. Falo isso por experiência pessoal: ao visitar Brasília em outubro do ano passado, me hospedei em um apartamento através do Airbnb e utilizei o Uber e o Cabify para me deslocar pela cidade.
Em um local com o custo de vida extremamente alto como Brasília, esses serviços fizeram a diferença no orçamento final da minha viagem, uma vez que o meu gasto total nos dois dias em que fiquei na capital federal, entre hospedagem e transporte, provavelmente não pagaria uma diária de hotel na região da Asa Sul, uma das mais caras da cidade.
Economia compartilhada – ou será que não?
Essas empresas, a economia proporcionada pelo seu uso e, principalmente, o modelo de negócio trazido por elas tornou bastante popular o termo “economia compartilhada“. Esse termo, por sua vez, passou a ser designado para definir os novos modelos de organização de trabalho e de uso de bens, com o foco deixando de ser a posse para se tornar o uso de bens.
Segundo os seus defensores, a tendência é que cada vez mais pessoas deixem de ter a posse de um carro e passem a fazer o uso sob medida, solicitando um veículo apenas quando necessário, utilizando para isso um aplicativo como o Uber ou Cabify. Dessa forma, o novo mantra dos negócios se torna o “compartilhamento” desses bens, gerando uma maior renda para os seus donos (ou locadores, visto que muitos motoristas desses aplicativos utilizam carros locados) e uma maior economia para os seus usuários, que deixam de lado os altos custos de manutenção da posse de um carro (como gasolina, revisão periódica, impostos, etc).
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Contudo, seria coreto chamar essa nova tendência de economia compartilhada? Há uma verdadeira descentralização por trás disso?
Em uma das palestras proferidas pela Bitconf de 2017, vi um excelente insight dado pelo palestrante, o Carl Amorim, representante do Blockchain Research Institute no Brasil. Segundo ele, empresas como Uber e Airbnb não podem ser classificadas como exemplos de uma verdadeira economia do compartilhamento. Isso ocorre porque apesar dessas empresas permitirem que pessoas compartilhem seus veículos e imóveis, a organização ainda depende de um intermediário, um terceiro de confiança, para que a transação possa ser registrada, validada e o pagamento possa ser feito.
Como Uber e Airbnb são empresas, elas ainda possuem uma organização central e uma hierarquia (ainda que mínima) de comando, o que mantém o risco do chamado ponto único de falha. Isso se torna ainda mais evidente no caso de conflitos com legisladores e grupos de interesse, como vimos com mais força no caso do conflito Uber x taxistas. Uma simples lei, como a imposta pela prefeitura de São Paulo, pode tornar a operação da empresa bastante complicada em uma cidade – ou até mesmo proibir por completo, deixando milhares de motoristas desempregados.
Portanto, a descentralização e o compartilhamento dessas empresas ainda não está próximo o bastante do ideal. E para saber qual seria esse parâmetro, vamos até o estado americano do Texas.
Arcade City e a verdadeira descentralização
Assim como várias cidades brasileiras, a cidade de Austin, capital do Texas, também viu o Uber ser fortemente hostilizado pelos motoristas de táxi locais. Na cidade americana, o Uber deixou de operar sem nenhum aviso, fato que deixou mais de 10 mil pessoas sem emprego de forma instantânea, sem falar nos milhares de passageiros que utilizavam o aplicativo e, após o fato, experimentaram a frustração de não ter mais a praticidade e preços acessíveis do Uber em suas mãos.
Pensando nisso, um grupo de desenvolvedores da própria cidade resolveram criar um aplicativo de transportes que fosse realmente descentralizado, no qual cada motorista pudesse não apenas cadastrar o seu carro para oferecer corridas, mas também pudesse criar a sua própria empresa de transportes, dessa forma agindo como um verdadeiro empreendedor.
E eis que surgiu o Arcade City.
O aplicativo cria uma perfeita conexão entre o motorista e o usuário do serviço ao utilizar o modelo P2P para conectá-los, o mesmo modelo utilizado em transações de criptomoedas. Esse modelo dispensa totalmente o uso de qualquer intermediário, fazendo com que toda a transação – da solicitação da corrida atue o pagamento – seja feita diretamente entre o motorista e o passageiro.
Outro grande benefício do aplicativo é o fato de ele não ser uma empresa, mas uma rede descentralizada, sem nenhuma organização, CNPJ ou dono por trás de sua criação. Por não possuir uma sede empresarial, tampouco uma hierarquia, o Arcade City torna os motoristas livres para desenvolverem os seus próprios negócios, podendo cadastrar não apenas o seu veículo, mas uma verdadeira frota que pode ser dirigida por outros motoristas.
Preços
Como o aplicativo permite ao motorista selecionar os seus próprios preços, não existe qualquer controle como preço ou tarifa mínima de corrida. Tampouco existem taxas cobradas dos motoristas ou dos passageiros (apenas a taxa de transação da blockchain).
Serviços
Além das corridas, o Arcade City proporciona aos motoristas a oportunidade de estabelecer uma completa rede de contatos com os clientes mais frequentes, permitindo o agendamento direto de viagens. Outros serviços que podem ser feitos pela plataforma são viagens intermunicipais ou entregas.
Segurança
Um grande diferencial do Arcade City é a maior liberdade que o aplicativo fornece ao usuário. Ele permite que o passageiro possa ver os motoristas que estão em sua região e escolher aquele que lhe parece mais confiável, que tenha o carro de sua preferência ou através de qualquer outro critério pessoal.
Estrutura
O Arcade City se baseia na blockchain Ethereum. Para se financiar, o aplicativo criou um token, o token ARC, o qual também é utilizado para o pagamento das corridas dentro do aplicativo. O uso da blockchain proporciona a descentralização e a segurança na rede do aplicativo.
Disponibilidade
A empresa começou a operar no Brasil em dezembro do ano passado. No momento, se encontra disponível nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
Descentralização gerando empregos
Depois que o Uber deixou de operar em Austin no ano passado, a Arcade City começou a ocupar o espaço deixado pela empresa e construiu a primeira rede autônoma de caronas, que agora totaliza mais de 43.000 membros, mais de quatro vezes a quantidade de empregos perdidos com o fim da operação do Uber.
A Arcade City de Austin forneceu transporte seguro e confiável em toda a cidade nos últimos 18 meses. Lá, passageiros e motoristas já se comunicam diretamente, sem que para isso seja necessário qualquer intermediário ou corporação envolvida, usando os critérios de avaliação disponíveis pelo aplicativo e a segurança proporcionada pela blockchain.
Dessa forma, o serviço não só foi capaz de gerar empregos e contornar a legislação local (que nano possui jurisprudência para lidar com organizações verdadeiramente descentralizadas), como também forneceu mais liberdade e segurança tanto para motoristas (que se tornaram verdadeiros empreendedores) quanto para passageiros (que dispõem de melhores ferramentas de avaliação e seleção de motoristas). Uma verdadeira descentralização econômica e social.
Conclusão
Uma verdadeira descentralização fornece as pessoas o poder de realizarem transações diretas, sem a necessidade de pagar nenhuma taxa a qualquer intermediário desnecessário. E o Arcade City acabou de trazer isso para o mundo dos transportes.
Outras aplicações tendem a surgir em vários setores, como o Slock.it para o setor de hospedagens. Criando ambientes livres de intermediários e de empresas, uma vez que o fornecedor do serviço será a sua própria empresa.
Bem vindos a verdadeira economia compartilhada.