Atualmente, os usuários de Bitcoin possuem uma ampla variedade de carteiras de hardware e software ricas em recursos à sua disposição. Nunca foi tão fácil guardar e transacionar criptomoedas. Quando o Bitcoin foi lançado, no entanto, não existiam carteiras. Foi necessária a intervenção de Satoshi Nakamoto para projetar a primeira carteira de desktop, e sua criação se mostrou surpreendentemente resiliente, com a carteira servindo a comunidade fielmente por anos. Essa história é o tema da parte 18 da série Bitcoin History.
A primeira carteira de Bitcoin
A primeira carteira de Bitcoin da história foi um cliente completo, o que significava que era necessário fazer o download de todo o histórico da blockchain para que ela fosse sincronizada. Este não era um problema, pois haviam poucos dados registrados, o que permitia uma rápida sincronização.
No entanto, as dificuldades de uso dessa carteira aumentaram conforme aumentou o tamanho da blockchain. Em 2012, Vitalik Buterin escreveu: “Por ser um nó completo, o usuário deve fazer o download de toda blockchain (então com 6 GB) para operar, o que pode levar alguns dias na primeira instalação e alguns minutos a uma hora toda vez que você inicia o cliente posteriormente, se você não o atualizar constantemente”. Hoje, a blockchain do Bitcoin está se aproximando de 250 GB.
Satoshi começou a trabalhar na carteira ao mesmo tempo em que desenvolveu o protocolo do Bitcoin, e a Bitcoin-Qt, como ficou conhecida a carteira, foi lançada em fevereiro de 2009 – antes do lançamento da criptomoeda em si.
As chaves privadas da Qt eram armazenadas em um arquivo intitulado “wallet.dat”. Este arquivo ficava na área de trabalho, o que provocou várias histórias de angústia ao longo dos anos envolvendo pessoas que excluíram acidentalmente essa pasta ou acessaram-na por malware que visavam especificamente essa pasta, resultando na perda de dezenas de milhares de Bitcoins. Não havia nada inerentemente inseguro na carteira de Satoshi. De fato, com a opção de criar um backup totalmente criptografado, a Qt era uma carteira altamente segura quando configurada da maneira certa.
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Uma carteira que deu conta do recado
Os bitcoiners que entraram no mercado antes de 2014 recordarão com carinho da experiência de fazer o download da carteira Qt e assistir maravilhados quando suas primeiras moedas chegavam, como que por mágica, em seu endereço. Frequentemente, essas moedas eram enviadas rapidamente para seu destino final – o Silk Road.
Acredita-se que a primeira compilação da carteira Bitcoin-Qt, versão 0.1, tenha sido perdida no tempo até que Hal Finney, praticamente incapacitado devido a doença de Lou Gehrig, encontrou o código-fonte em 2012. Os bitcoiners que estivessem curiosos para ver como era a primeira carteira da criptomoeda poderiam fazer o download e executar o cliente Bitcoin-Qt 0.1 no seu computador. Um arquivo de texto escrito por Satoshi que acompanha o software explica como utilizar.
“Para dar suporte à rede executando um nó, selecione: ‘Opções-> Gerar moedas’ e mantenha o programa aberto ou minimizado. Ele é executado com prioridade ociosa quando nenhum outro programa está usando a CPU. Seu computador resolverá um problema computacional muito difícil usado para encontrar blocos de transações. O tempo para gerar um bloco varia, mas pode levar dias ou meses, dependendo da velocidade do seu computador e da concorrência na rede”, afirma o arquivo.
Sempre mestre em superar a complexidade, Satoshi concluiu:
“Não é um cálculo que deve recomeçar desde o início, se você parar e reiniciá-lo. Uma solução pode ser encontrada a qualquer momento. Como recompensa por apoiar a rede, você recebe moedas quando gera um bloco com sucesso.”
Tão antiga quanto o Bitcoin
Embora a funcionalidade fosse limitada, a carteira Qt tinha alguns recursos avançados para a época. Além de enviar e receber moedas e incorporar um catálogo de endereços, ela permitia ao usuário assinar digitalmente uma transação, provando que ele era o proprietário de uma chave pública específica.
A partir da versão 0.9.0, a carteira Bitcoin-Qt ficou conhecida como carteira Bitcoin Core, seguindo uma proposta de Gavin Andresen, que opinou que “Bitcoin Core” soa forte e parecido com uma rocha, e é isso que você deseja para algo que constitui a espinha dorsal da rede”. Peter Todd discordou do nome, respondendo que “o Bitcoin Core tem o sério problema que implica que você precisa dele”, mas a moção foi aprovada e a Qt se tornou Core. A história, no entanto, provaria que Todd estava certo.
Apesar de hoje os bitcoiners terem acesso à uma variedade de carteiras fáceis de usar, a carteira Bitcoin Core ainda está forte. De acordo com o site do Bitcoin Core, onde a carteira pode ser baixada, ela “oferece altos níveis de segurança, privacidade e estabilidade. No entanto, possui menos recursos e ocupa muito espaço e memória”. Sua sobrevivência é um crédito para seu criador e para os desenvolvedores de Bitcoin, que dedicaram inúmeras horas a melhorá-lo nos últimos 10 anos.
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