Imagine uma empresa cujo ativo principal não é uma fábrica, nem um portfólio de imóveis, nem uma rede de franquias, mas sim 3.650 unidades de Bitcoin guardadas em tesouraria. Essa empresa existe: chama-se OranjeBTC, uma “Bitcoin Treasury Company” brasileira que abre capital na B3.
OranjeBTC foi criada para ter como core business a custódia de Bitcoin e o ensino sobre a criptomoeda. De acordo com o CEO, Guilherme Gomes, a empresa vai combinar duas frentes:
- Compras recorrentes de Bitcoin para tesouraria, na linha de estratégia de Strategy (antiga MicroStrategy);
- Educação em criptomoedas – por isso a aquisição de uma empresa de cursos tradicionais, Intergraus, como veículo de listagem via “reverse IPO”.
O movimento da OranjeBTC chama a atenção por sua ousadia, mas também levanta dúvidas. A empresa preenche uma lacuna ao permitir que investidores brasileiros tenham exposição direta ao Bitcoin via bolsa, algo ainda raro no mercado local.
A narrativa de ser uma companhia com tesouraria 100% em Bitcoin tem apelo de marketing e pode atrair atenção de mídia e investidores, especialmente num país que ainda engatinha em educação financeira sobre cripto.
Mas o risco é proporcional ao charme: ao basear todo o patrimônio em um ativo altamente volátil, a OranjeBTC se torna refém do ciclo do Bitcoin dólar. Além disso, seu modelo de negócios ainda parece indefinido. Afinal, não está claro como a combinação de “educação e tesouraria” se transforma em lucro sustentável. Também não se sabe se a empresa conseguirá se diferenciar em um ambiente onde regulação e competição evoluem rapidamente.
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Por outro lado, sua listagem pode representar um marco importante: democratiza o acesso a criptoativos no Brasil, cria um novo tipo de empresa para o mercado de capitais e pode impulsionar o nível de conhecimento sobre o setor.
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Sucesso da OranjeBTC
Eu apostaria que o sucesso depende de três variáveis-chaves:
- Disciplina de tesouraria: não adianta comprar Bitcoin quando está caro ou parar quando está barato. Uma empresa tesouraria precisa ser quase imune ao “timing”.
- Modelo de monetização da educação: Se só for marketing “aprenda Bitcoin”, sem escala ou receita, não vale. Precisa converter em assinatura, serviços, certificações, talvez B2B, parcerias.
- Transparência e governança: Como muitas empresas cripto falham em governança, esta será uma vantagem competitiva. Se der para ver auditorias, reservas, riscos mitigados, ótimo. Se ficar opaco, é risco.
A OranjeBTC é o Brasil levando a sério a lógica de a empresa deixa de ser só empresa e vira Bitcoin-wrapper transparente no mercado de capitais. Isso pode abrir portas para o investidor local – mas não sem riscos.
Aconteça o que acontecer, o fato de vermos uma empresa 100% voltada para Bitcoin listando no Brasil é um sinal simbólico forte: o futuro das finanças está em movimento e se você não estivesse olhando, agora talvez seja o momento de prestar atenção.


