A agência de notícias CoinDesk realizou um levantamento de dados com o objetivo de descobrir qual moeda nacional é mais utilizada nas transações de Bitcoin ao redor do mundo e encontrou uma grande surpresa.
Muitos poderiam arriscar um palpite e afirmar que a moeda mais usada é o iene, uma vez que o Japão abriu o mercado de ativos digitais de forma ampla, tornando-se uma grande referência em termos de regulação. Mas não é isso que a CoinDesk aponta.
A análise considerou dados de negociação coletados de 26 a 30 de julho e sugere que o dólar americano (USD), e não o iene, é a moeda mais utilizada para negociar Bitcoin, superando a moeda japonesa por uma ampla margem.
Atualmente, os sites de análise CryptoCompare e Coinhills oferecem um detalhamento do comércio de bitcoins por par de moedas e, até recentemente, os dados de ambos sites indicavam que mais de 50% das negociações de bitcoins eram denominadas em iene japonês.
O problema é que a grande maioria das transações denominadas em ienes não são negócios “pontuais” de bitcoins para ienes. Em vez disso, são produtos derivativos: contratos que derivam seu valor do desempenho de um ativo subjacente.
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Em outras palavras, as partes envolvidas nessas transações estão apenas apostando no preço do Bitcoin – nenhuma fração da moeda está realmente trocando de mãos. Embora não exista nada inerentemente errado com esses contratos, a mistura seletiva de volumes derivados e pontuais pode representar um viés de confirmação que pode comprometer o resultado.
Especificamente, a Coinhills e a CryptoCompare, cujos dados foram citados por grandes empresas como a Bloomberg e o Wall Street Journal, não distinguiram entre os volumes pontuais e os de derivativos da exchange investigada, a Bitflyer, maior corretora de criptomoedas do Japão. Em outras palavras, os dois tipos de negociação foram contados em relação ao total da atividade do par iene-bitcoin.
No entanto, no caso do dólar, seus cálculos excluíram mercados equivalentes de derivativos denominados em dólar, como os da Bitmex. Como resultado, os totais de ienes e dólares não foram comparados com a mesma metodologia, uma vez que o primeiro incluiu operações com derivativos e o segundo não. Foi exatamente essa correção que a CoinDesk realizou em sua pesquisa, cujos dados compilados criaram um resultado completamente diferente.
O diabo está nos detalhes
Antes de mais nada, é preciso deixar bem claro que a mudança da análise das negociações não muda o fato de que o Japão continua sendo uma referência global de interesse em criptomoedas – graças em parte à uma lei que entrou em vigor no início do ano passado reconhecendo o Bitcoin como moeda legal e regulando as exchanges do país.
Além disso, a análise em questão cobre um período limitado (apenas cinco dias), portanto não é uma evidência conclusiva de que o dólar americano sustenta a maior parte do comércio de criptomoedas. Entretanto, depois de ser contatada pela CoinDesk, a CryptoCompare mudou sua metodologia e seus dados agora mostram também os derivativos de dólar.
Após a reformulação da análise foram incluídas as seguintes empresas: Bitmex, Bitflyer Lightning FX, CME and CBOE. Como resultado, foi obtido o gráfico abaixo, o qual traz as porcentagens da CryptoCompare, Coinhill e duas da CoinDesk (uma sem os derivativos da Bitflyer e a outra com todas as negociações).
Implicações regulatórias
Os resultados são notáveis, uma vez que o mercado de negociações pontuais é particularmente relevante para os órgãos preocupados com possíveis usos ilícitos de criptomoedas. Qualquer pessoa ou instituição que tente obter ganhos ilícitos hoje deve confiar em tais negociados para converter criptomoedas em moeda fiduciária.
O papel do dólar nesse ecossistema de trocas pode ampliar o alcance do governo dos Estados Unidos. Assim como a proeminência do dólar no sistema financeiro internacional deu aos reguladores norte-americanos a alavancagem de que necessitavam para moldar as práticas globais de combate à lavagem de dinheiro na esteira do 11 de setembro, a importância do dólar no comércio global de ativos digitais pode dar uma influência descomunal à medida que governos em todo o mundo elaboram novas estruturas regulatórias para esse ativos.
Yaya Fanusie, diretor de análise do Centro de Sanções e Finanças Ilícitas da Fundação para a Defesa das Democracias e coautor de um relatório sobre lavagem de dinheiro com Bitcoin, afirmou:
“Se suas suposições estiverem corretas e o dólar de fato dominar as negociações que envolvam ativos digitais ao redor do mundo, esses dados podem levar os reguladores dos Estados Unidos a assumir um papel mais ativo.”
Isto posto, vale ressaltar que o governo e os órgãos de controle financeiro do país já sofrem pressão para discutir o tema de forma mais ampla. As discussões em torno da aprovação dos ETFs de Bitcoin mostram que o tema apresenta muitos desafios, aos quais podemos ter mais um adicionado pelos resultados da pesquisa acima.