É fato que o universo do bitcoin ainda possui uma grande predominância do público masculino. Pesquisas recentes apontaram que o número de homens propensos a comprar bitcoins nos próximos cinco anos é três vezes superior ao de mulheres, além das moedas digitais ser melhor vista por 17% dos homens (comparado com apenas 7% de mulheres).
Embora possa parecer um dado irrelevante à primeira vista (talvez justificado pela maior presença de homens no mercado de tecnologia), trata-se de um dado curioso, o qual pode suscitar alguns questionamentos: será que não existe interesse do público feminino em conhecer sobre criptomoedas? Qual o verdadeiro nível de conhecimento desse público sobre o assunto? E, principalmente, uma pesquisa realizada por uma instituição americana é válida para o contexto de outros países, como o Brasil?
Foram essas dúvidas que levaram o Criptomoedas Fácil a realizar, pela primeira vez, um levantamento sobre a percepção e a participação do público feminino no mercado de criptomoedas totalmente adaptado para a realidade brasileira, o qual tem como objetivo compreender melhor a forma como as mulheres vêem essa nova tecnologia.
A pesquisa
Para essa pesquisa foi utilizada a base de leitoras do portal, composta por 400 mulheres. Essa base consiste na quantidade de leitoras que acessam o site e deixam cadastrados os seus e-mails para acompanhar as notícias. Os e-mails coletados na lista eram exclusivamente de mulheres, da base de 400 e-mails, foram obtidas respostas de 157 endereços, totalizando 39% do total da amostra.
O questionário em si foi composto de quatro perguntas, todas de múltipla escolha. Nas perguntas nº 01 e 04 utilizou-se uma escala de respostas de zero até 10, onde zero indicava nenhum conhecimento e 10 indicava muito conhecimento. Já nas perguntas nº 02 e 03 as respostas foram abertas, com a terceira questão possuindo três alternativas de respostas.
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Resultados
Pergunta 01: “em uma escala de 0 a 10 (sendo 0 nada e 10 muito) o quanto você conhece sobre bitcoin e outras criptomoedas?”
Essa pergunta foi a que apresentou um maior número de divisão nas respostas. Das 157 respostas, 42 marcaram abaixo do nível 5 da escala, revelando conhecimento básico sobre bitcoin e outras criptomoedas (27% do total). Outros 28% (44 respostas) marcaram entre os níveis 8, 9 e 10 da escala, revelando conhecimento avançado. Desse total, apenas 7 mulheres marcaram o nível 10, se considerando bastante conhecedoras sobre o assunto (5% do total).
O ponto a se destacar nessa questão é que mais de 50% das entrevistadas afirmaram ter um conhecimento sobre bitcoin e criptomoedas acima do nível 5, do intermediário até o avançado.
Pergunta 02: “por onde você ficou sabendo sobre o tema? Assinale uma ou mais alternativas.”
Essa pergunta também revelou certo equilíbrio. 42% das entrevistadas afirmaram conhecer o assunto por meio de mídias especializadas, enquanto 39% conheciam por meio da mídia geral. Para 37%, o conhecimento veio através de amigos e familiares, enquanto as redes sociais respondem por 28% (nessa questão era possível assinalar mais de uma alternativa, o que justifica a soma das porcentagens superar os 100%).
Pergunta 03: “você já investiu ou investe em bitcoin ou em outras moedas digitais (criptomoedas)?
Aqui é mostrado o primeiro dado interessante da pesquisa: embora mais de 50% das entrevistadas afirmem ter conhecimento intermediário a avançado, 35% nunca investiram em nenhuma moeda digital.
Dentre os 65% que investem ou já investiram, 39% escolheram o bitcoin enquanto 26% escolheram outras moedas, mostrando que a predominância de escolha da moeda criada por Satoshi Nakamoto também se encontra entre as mulheres.
Pergunta 04: “em uma escala de 0 a 10 (sendo 0 nada e 10 muito) o quanto você tem interesse em continuar a investir ou continuar a investindo em bitcoin ou outras moedas digitais (criptomoedas)?
A última pergunta foi, de longe, a que teve a maior predominância de uma única resposta. Quando perguntadas sobre o interesse em começar a investir ou continuar investindo em criptomoedas, 70% demonstraram grande interesse (níveis 8, 9 e 10 da escala), totalizando 110 das 157 respostas. Apenas 15% disseram possuir pouco ou nenhum interesse em investir ou continuar investindo (níveis abaixo de 5 na escala).
Possíveis discussões
A partir das respostas obtidas e explicadas no texto, podemos inferir algumas possibilidades e conclusões da pesquisa.
A primeira conclusão apresentada é que existe uma nítida diferença entre a realidade brasileira e a realidade de outros países no que tange ao interesse geral por criptomoedas. Mais de 50% das entrevistadas afirmaram conhecer bitcoin e outras moedas, o que já mostra um considerável interesse e diferença.
Mas a grande diferença pode ser vista nos números referentes à quantidade de investidoras no mercado. Enquanto dados do Google Analytics mostram que apenas 4% dos investidores são mulheres, a pesquisa feita pelo Criptomoedas Fácil apontou impressionantes 65% (na soma entre investidoras de bitcoin e outras moedas). Isso mostra que temos uma base de leitoras que não apenas demonstram estar interessadas em conhecer mais sobre o assunto como também investem dinheiro próprio nesses ativos.
O interesse feminino no assunto entre as leitoras brasileiras também mostra um nível consideravelmente alto. Enquanto a pesquisa da Harris Poll mostrou que apenas 7% das mulheres possuem uma visão positiva sobre criptomoedas, nossa pesquisa mostrou que as mulheres brasileiras interessadas em conhecer sobre o assunto representam um índice de impressionantes 70%, dez vezes maior do que a pesquisa americana. Isso pode ser explicado pelo grande alcance e divulgação que o bitcoin teve nos últimos anos aqui no Brasil.
Em relação aos meios usados para obter informações sobre o tema, podemos observar uma disputa acirrada entre a mídia especializada (42%) e a mídia tradicional (39%) no que se refere à busca por conteúdo. Como o bitcoin vem atraindo cada vez mais a atenção da mídia devido às suas recentes altas (a moeda salto de 1000 dólares no início do ano para 9500 dólares no momento da produção deste texto), e a grande mídia ainda possui uma forte influência entre os brasileiros, um empate técnico se torna justificado.
Mulheres que trabalham com criptomoedas
Se podemos avaliar o universo geral de mulheres que conhecem criptomoedas como pequeno, o que diremos de mulheres que trabalham diretamente com a moeda?
O Criptomoedas Fácil conversou com duas das mais conhecidas dentro da comunidade: Jéssica Lima e Isnaylha Ereshigal. Ambas trabalham com venda P2P (peer to peer) e trabalham não apenas com bitcoin, mas também com outras moedas.
Jéssica conhece o bitcoin desde 2015, e atua no mercado desde abril de 2016. Ela afirma que as suas maiores dificuldades no começo foram entender a tecnologia e lidar com os golpes. “Tive muita dificuldade para entender como funcionava (a moeda), pois eu era bem leiga mesmo”, afirmou Jéssica. Além disso, golpes e falta de credibilidade pelo fato de ser mulher foram outros fatores que dificultaram o início dos seus trabalhos.
Isnaylha começou um pouco depois. Atuando no P2P desde julho desse ano, seu maior foco é na venda de altcoins. Assim como a Jéssica, a maior dificuldade dela no início foi a conquista de credibilidade e confiança dos clientes. “Mas diariamente venho conquistando a credibilidade do público que procura adquirir criptomoedas”, afirmou.
Hoje ambas possuem uma sólida reputação no mundo das criptomoedas, sendo bastante conhecidas e, conseqüentemente, tendo grande base de clientes. “Não posso te dar uma média diária, mas negocio com cerca de 200 pessoas por mês”, afirmou Jéssica. Isnaylha também indicou uma grande procura, especialmente de novos clientes, embora não tenha citado números exatos. “É bastante incerto (o número de clientes), pois a cada dia novas pessoas me procuram para negociar”, disse ela.
Elas também deixaram dicas para as pessoas que desejam começar a investir ou trabalhar com criptomoedas. “O estudo e conhecimento de cada moeda é essencial, entender a proposta que cada moeda oferece e então decidir qual ou quais atendem ao objetivo que procura ao ingressar no mundo cripto”, aconselhou Isnaylha. Jéssica também salientou o cuidado com esquemas que prometem “lucro fácil” usando criptomoedas como isca para atrair pessoas, especialmente iniciantes. “Indico estudar, comece aplicando pequenos valores que ache que não irão fazer falta, e não entre em pirâmides ou esquemas ponzi, pois são todos golpes (sic)”, finalizou.
Conclusão
O bitcoin é um ativo neutro em relação a diferenças de gênero. Essa é a principal maravilha dessa tecnologia: ser acessível a qualquer pessoa, independente de gênero, classe social ou nível de escolaridade.
O interesse da comunidade feminina tem aumentado nos últimos anos. A grande divulgação do bitcoin nos meios de imprensa despertou um grande interesse da moeda, seja como investimento, meio de troca ou até mesmo ferramenta de trabalho.
O fato de existirem duas mulheres entre as vendedoras P2P mais respeitadas do mercado de criptomoedas é bastante notável. Mostra que, apesar de pequena, a participação feminina é crescente, ativa e fundamental para dar uma pluralidade cada vez maior ao fascinante mundo das criptomoedas.