A mineração de criptomoedas na Islândia irá consumir mais energia do que todas as residências do país juntas, segundo reportagem do portal britânico The Telegrafh.
Segundo a reportagem, o aumento da quantidade de eletricidade necessária para a mineração de Bitcoin e outras criptomoedas levou várias empresas do setor de mineração a escolherem o país como base de suas atividades. As principais razões seriam a grande oferta de energia limpa e renovável e também as baixas temperaturas do país, que diminuem os custos com refrigeração das máquinas.
Johann Snorri Sigurbergsson, gerente de desenvolvimento de negócios da Hitaveita Sudurnesja, uma empresa de energia local, disse esperar que a mineração de moeda virtual da Islândia dobre o seu consumo de energia para cerca de 100 megawatts em 2018. Isso é mais do que o consumo total de todas as famílias do país, de acordo com a Autoridade Nacional de Energia da Islândia. O país conta com cerca de 340 mil habitantes.
“Quatro meses atrás eu não poderia ter previsto essa tendência – mas, em seguida, o bitcoin disparou e recebemos muito mais e-mails”, disse Sigurbersson na planta de energia geotérmica de Svartsengi, que alimenta a península do sudoeste onde a mineração ocorre.
“Hoje, venho de uma reunião com uma empresa de mineração que procura comprar 18 megawatts”, continuou.
A Islândia ficou conhecida no mercado de criptomoedas ao abrigar a Genesis Mining, que está no país desde 2014. Nesses quatro anos, o Bitcoin saiu de cerca de 350 dólares para quase 9000 dólares, após ter atingido um pico de 19 mil em dezembro.
Apesar do crescimento da moeda e da geração de emprego que essas empresas trouxeram, muitas pessoas se mostram céticas sobre os impactos ambientais e econômicos desse forte interesse. A última vez em que o país recebeu grande atenção foi em 2008, logo após a crise financeira daquele ano.
Nessa época, os três maiores bancos do país faliram, criando um verdadeiro caos no sistema financeiro local que acabou tornando a pequena nação (cuja população é menor do que a cidade de Campina Grande/PB) um símbolo da derrocada econômica na Europa.
A turbulência política após a crise levou o pequeno Partido Pirata ao parlamento da Islândia, onde atualmente detém 10% dos assentos. E é justamente esse partido que está à frente das discussões sobre como controlar a atividade de mineração.
Smari McCarthy, congressista do Partido Pirata, questionou o valor da mineração de bitcoin para a sociedade islandesa, dizendo que os residentes deveriam considerar regulamentar e taxar o setor emergente.
“Em circunstâncias normais, as empresas que criam valor na Islândia pagam uma certa quantia de impostos ao governo”, disse McCarthy à Associated Press. “Essas empresas não estão fazendo isso, e talvez seja a hora nos perguntar se elas não devem começar a fazer isso”.
“Estamos gastando dezenas ou talvez centenas de megawatts na produção de algo que não tem existência tangível e nenhum uso real para humanos fora do domínio da especulação financeira”, disse ele. “Isso não pode ser bom”.
Resta saber se a iniciativa será bem recebida pelos islandeses, que certamente se tornaram mais céticos a respeito de empreendimentos financeiros especulativos depois do resultado catastrófico da quebra bancária do país em 2008.