Na última segunda-feira, 23/04, a Weiss Ratings, principal agência de classificação de ativos independente de instituições financeiras norte-americana, lançou um novo relatório aberto sobre criptoativos. O foco do texto foi o Bitcoin e as moedas digitais originadas dos seus hardforks, as quais foram chamadas pela agência de “cópias” do Bitcoin.
Na publicação, a agência ressaltou o que ela considera falhas inerentes ao Bitcoin. Citando Andreas Antonopoulos, autor do livro Mastering Bitcoin, a Weiss comenta que a proposta do criptoativo era de ser “o dinheiro da internet”, a moeda que, por não ser manipulada por nenhum banco central, poderia lançar as bases de um novo sistema financeiro e jurídico.
No entanto, esta proposta teria muitas falhas inerentes.
Em seu relatório, a agência cita sete falhas no protocolo do Bitcoin que ela considera fundamentais. As falhas a seguir foram citadas pelo próprio relatório da agência:
1. Não há uma maneira fácil de atualizar o protocolo. Normalmente, a única solução é criar clones dele (os conhecidos hardforks), depois atualizar um pouco e iniciar uma nova rede;
2. As transações levam até uma hora para confirmar (sic). Pior, a rede fica facilmente congestionada durante períodos de alto uso, tornando as transações ainda mais caras e lentas;
3. Outra grande falha de design é a falta de “liquidação final”, o que significa que uma transação nunca é realmente fechada no sentido contábil. Isso pode não ser um problema para os usos atuais, mas será um grande obstáculo quando a blockchain for usada para transações de títulos, onde a liquidação e o ordenamento de transações são fundamentais;
4. Bitcoin tem uma oferta limitada, portanto é uma moeda deflacionária. A fonte dessa falha no projeto é provavelmente uma reação exagerada à crise financeira de 2008, a qual serviu de inspiração para o lançamento do criptoativo. Lembre-se, foi a partir daquele ano que os bancos centrais iniciaram seu experimento, que durou uma década, de aumentar continuamente a oferta de moeda para sustentar suas economias. O design da moeda apresenta uma falha exatamente oposta. Nunca pode ser aumentado, mesmo quando deveria ser. E nada pode ser feito para reverter isso;
5. Consequentemente, o Bitcoin não pode ser usado como uma moeda real. Como reserva de valor? Possivelmente. Mas mesmo para isso só nos resta aguardar;
6. A mineração de Bitcoin (baseada na prova-de-trabalho) é muito centralizada, com apenas um punhado de mineradores controlando a maioria do hash de energia;
7. A mineração requer o consumo de quantidades cada vez maiores de eletricidade. Isto é, em última análise, trata-se de uma maneira pouco econômica e muito ineficiente de garantir uma rede descentralizada. Isso funciona – não há dúvida sobre isso. Mas engenheiros e cientistas podem, e certamente encontrarão, melhores alternativas no futuro.
Apesar da lista de deficiências, a agência de classificação reconhece uma grande qualidade do Bitcoin: o peso global da marca, também chamado de efeito de rede. A grande maioria da população conhece o Bitcoin, sabe o que ele é, o que o torna mais conhecido do que todas as demais moedas digitais.
Bitcoin Cash, Bitcoin Gold, Bitcoin Diamond, Silver… certamente todos nós já ouvimos falar dessas moedas digitais. Todas elas tem algo em comum: são criptomoedas geradas como uma tentativa de melhorar a rede do Bitcoin, tornando a operação mais escalável e mais prática.
Porém, a Weiss Ratings não as vê dessa forma. Para a agência, as “cópias” representam apenas uma tentativa de melhorar algo que possui falhas.
“Essa é a raiz de suas (das cópias) próprias deficiências, ao tentar melhorar um projeto fundamentalmente falho, elas ainda herdam a maior parte das fraquezas do criptoativo: baixa velocidade, baixa escalabilidade, altos custos, ineficiência de energia, falta de privacidade e muito mais”, afirma o relatório.
Citando nominalmente os exemplos do Bitcoin Gold e do Bitcoin Cash (que propôs o aumento do bloco como solução de escalabilidade), o documento mostra quatro problemas que ainda permaneceriam nas tentativas de clonagem da moeda digital.
1. As cópias do Bitcoin ainda usam modelos deflacionários;
2. Elas ainda contam com consumo de eletricidade insustentável para manter suas redes;
3. Se mantém a estrutura de taxas que dá muito poder aos mineradores, geralmente criando conflitos de interesse entre eles e os usuários finais;
4. Ainda prevalece a dificuldade em atualizar o protocolo;
5. Nenhuma delas tem a mesma popularidade do Bitcoin.
Mas, qual solução a Weiss proporia para os problemas que a rede Bitcoin apresenta?
Altcoins. Eis o novo avanço em termos de criptoativos.
Em um dos trechos mais polêmicos do documento, o tópico é introduzido com uma comparação entre o Bitcoin, os hardforks e as altcoins.
O Bitcoin seria o Ford Model T, primeiro carro a ser produzido em massa – foi o pioneiro, mas apresenta bastante falhas.
Já as moedas digitais criadas nos hardforks seriam o Ford Model A, modelo que sucedeu o T: inerentemente igual, com apenas alguns modestos ajustes.
Em compensação, as altcoins, na visão da agência, são o futuro representado pelo Tesla Model S. E ela cita as razões para a comparação.
Vale lembrar que a opinião da Weiss Ratings reflete também na classificação de risco da moeda, que recebeu uma nota C+, quando do lançamento do relatório, em janeiro. A nota colocou o principal criptoativo do mercado com classificação abaixo de Ether, EOS e Cardano.
Pouco tempo depois do lançamento, a empresa justificou a nota em um de seus relatórios.